1108 Lucas 17,1-6 Segunda Feira da XXII Semana do tempo comum

1108 Lucas 17,1-6 Segunda Feira da XXII Semana do tempo comum

Evangelho (Lucas 17,1-6)                                   

Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo Lucas.

17 1Jesus disse também a seus discípulos: “É impossível que não haja escândalos, mas ai daquele por quem eles vêm!

2Melhor lhe seria que se lhe atasse em volta do pescoço uma pedra de moinho e que fosse lançado ao mar, do que levar para o mal a um só destes pequeninos. Tomai cuidado de vós mesmos.

3Se teu irmão pecar, repreende-o; se se arrepender, perdoa-lhe.

4Se pecar sete vezes no dia contra ti e sete vezes no dia vier procurar-te, dizendo: Estou arrependido, perdoar-lhe-ás”.

5Os apóstolos disseram ao Senhor: “Aumenta-nos a fé!”

6Disse o Senhor: “Se tiverdes fé como um grão de mostarda, direis a esta amoreira: ‘Arranca-te e transplanta-te no mar, e ela vos obedecerá'”.

Palavra da Salvação.

REFLEXÃO

Comentário ao Evangelho

EVITAR OS ESCÂNDALOS

O relacionamento, no interior da comunidade cristã, deve ser de fraternidade e de respeito mútuos. Contudo, as pessoas que estão dando os primeiros passos na fé merecem atenção especial. Não devem ser tratadas com intolerância e impaciência por quem se considera firme e maduro na sua adesão a Jesus. Esse tratamento poderia levá-las ao desespero, acabando por abandonarem sua caminhada de fé. A isso chamamos de escândalo. E Jesus advertiu seus discípulos a evitá-lo.

A ofensa feita a uma pessoa fraca na fé atinge o próprio Deus. Daí o castigo terrível que Jesus sugeriu para quem escandalizar um pequenino. É Deus o primeiro interessado em que alguém se converta ao Reino anunciado por Jesus, e se esforce por adequar sua vida a esse mesmo Reino. Porque conhece a fraqueza humana, o Pai sabe que ninguém é capaz de atingir a maturidade da fé, da noite para o dia. O processo é lento e penoso, feito de altos e baixos. Ele acompanha, com carinho e paciência, cada discípulo do Reino que se esforça para crescer na fé.

Deus não suporta que alguém se intrometa e ponha a perder a obra de sua graça. E o escândalo, em última análise, consiste em desfazer a obra de Deus, no coração das pessoas. Portanto, é obrigação da comunidade colaborar para que os pequeninos, apesar de suas quedas, sigam adiante, fazendo amadurecer sempre mais a própria fé.

Reflexão comentários

SEGUNDA-FEIRA

 

Lc 17,1-6: Senhor, aumenta-nos a fé.

Os   fragmentos desconexos deste Evangelho fazem parte de um discurso de Jesus sobre as condições para entrar e viver na comunidade do Reino. Contém estes três temas: O escândalo causado aos irmãos mais débeis: “Ai daquele que escandaliza um destes pequeninos; Perdão fraterno ilimitado: “Se o teu irmão te ofender sete vezes num dia e sete vezes voltar e te disser ‘estou arrependido’, tu lhe perdoarás”. O poder da fé.

Sobre o escândalo alheio e próprio e sobre o perdão fraterno reflectimos noutra ocasião (comentando Marcos 9,40ss e Mateus 18,21ss) A ofensa feita a uma pessoa fraca na fé atinge o próprio Deus. Daí o castigo terrível que Jesus sugeriu para quem escandalizar um pequenino. É Deus o primeiro interessado em que alguém se converta ao Reino anunciado por Jesus, e se esforce por adequar sua vida a esse mesmo Reino. Porque conhece a fraqueza humana, o Pai sabe que ninguém é capaz de atingir a maturidade da fé, da noite para o dia.. Fixamos agora a nossa atenção no terceiro ponto: o poder da fé.

Ao pedido dos apóstolos: “Aumenta-nos a fé”, Jesus não responde directamente nem lhes ensina nenhuma táctica de conquista. Só diz: “Se tivésseis fé como um grão de mostarda, diríeis a esta amoreira: ‘Arranca-te e replanta-te no mar’, e ela vos obedeceria”. Exagero intencional. A condição “se” é o que limita o poder da utopia. Os dis¬cípulos pedem quantidade, mas Jesus fala de qualidade; bastaria um pouco de fé, contanto que fosse autêntica. “Fé” é palavra muito curta em letras, mas muito longa em significado e alcance; similar a outros dois monossílabos: sim e não, que podem decidir toda uma vida. A súplica dos discípulos corresponde, sem dúvida, a uma situação vaci¬lante deles mesmos ou da comunidade cristã em que se redigiram os evangelhos; situação de crise, frequente por demais na vida de qual¬quer um. Não é um tópico dizer que correm tempos difíceis para a fé, “tempos fortes”, como dizia Santa Teresa de Ávila há séculos. Nunca foi fácil crer de verdade, mas a dúvida e a insegurança parecem ser hoje um elemento do esquema existencial de muitos; hoje, quando caíram tantos apoios sociológicos de uma fé tradicional ou herdada e há menos condicionamentos ambientais e menos tabus sociais, torna- -se mais difícil acreditar. E há não só crise de fé religiosa, também hu¬mana. A relutância a crer torna-se extensiva a todo o programa social, político e económico. Surge o desencanto, o cepticismo e a indife¬rença, tanto nos adultos como, sobretudo, nas novas gerações. Então nasce no coração a indignação diante da injustiça e clamamos conster-

nados: Até quando, Senhor?; ou pedimos, com os apóstolos: Senhor, aumenta-nos a fé. Mas em que consiste a fé?

  1. Uma fé viva e operante. A fé está para além de toda a defini¬ção, porque pertence à esfera psíquica da pessoa, à estrutura e con¬texto da experiência religiosa e pessoal, ao contacto vivencial com Deus no nosso ser mais íntimo. Por tudo isso a fé situa-se no âmbito das vivências e valores como o amor, a amizade, a alegria, a espe¬rança, o medo, a confiança em alguém, numa promessa ou numa pala¬vra dada. “A fé é a segurança do que se espera e prova do que não se vê” (Heb 11,1). Esta é a definição bíblica.

A fé em Deus existe realmente e possui-se como dom seu ao homem, mas é difícil, e até ocioso, tentar defini-la. Escapa a toda a medida física de peso, volume, longitude e profundidade, para entrar no nível do espírito. Por isso é mais fácil saber se cada um tem fé, se pouca se muita, se a perdeu.

Pode parecer decepcionante, mas a fé não nos dá vantagem tempo¬ral alguma, nem é estatuto’ de privilegiados, nem droga alienante ou anestesia perante a dura realidade, nem talismã mágico para resolver os problemas sem custo adicional. Tão-pouco é possessão vitalícia, adquirida de uma vez para sempre. Pode perder-se se não se cuida.

Contudo, a fé – esse dom gratuito de Deus que temos de lhe pedir continuamente – é tudo na nossa vida de cristãos, porque nos dá uma luz que tudo ilumina, porque é optimismo, alegria e força de Deus que nos infunde a têmpera e a vontade de Jesus, todo um estilo novo de enfrentarmos a vida para dar a cara por ele. Por isso a fé em Deus não é reaccionária, mas progressista e construtiva de um mundo melhor, mais justo e mais fraterno.

Necessitamos tanto de uma fé viva e operante… Aprofundemos e personalizemos mais e mais a nossa fé mediante a oração, o estudo, a leitura bíblica, a meditação e os grupos de fé para a acção. E peçamos sempre: Senhor, aumenta-nos a fé!

ORAÇÃO

Obrigado, Senhor Jesus, por nos mostrares o poder da fé autêntica.

Concede-nos ao menos um grãozinho de fé verdadeira para, força e alegria, para crer de verdade nestes tempos difíceis.

.Senhor, cremos, mas aumenta a nossa fé!

Video meditação

Senhor eu creio mas aumentai a nossa fé  

https://www.youtube.com/watch?v=weMSpedN1DU

 

 

Lc 17,1-6: Senhor, aumenta-nos a fé.

Senhor, aumenta-nos a fé

  1. Tempos “fortes” para a fé. O texto evangélico de hoje reúne fragmentos desconexos que parecem fazer parte de um discurso de Jesus sobre as condições para entrar e viver na comunidade do Reino. Contém estes três temas: 1) O escândalo causado aos irmãos mais débeis: “Ai daquele que escandaliza um destes pequeninos; melhor lhe fora que lhe enfiassem ao pescoço uma mó de moinho e o lançassem ao mar”. 2) Perdão fraterno ilimitado: “Se o teu irmão te ofender sete vezes num dia e sete vezes voltar e te disser ‘estou arrependido’, tu lhe perdoarás”. 3) O poder da fé.

Sobre o escândalo alheio e próprio e sobre o perdão fraterno reflec¬timos noutra ocasião (comentando Marcos 9,40ss e Mateus 18,21ss). Fixamos agora a nossa atenção no terceiro ponto: o poder da fé.

Ao pedido dos apóstolos: “Aumenta-nos a fé”, Jesus não responde directamente nem lhes ensina nenhuma táctica de conquista. Só diz: “Se tivésseis fé como um grão de mostarda, diríeis a esta amoreira: ‘Arranca-te e replanta-te no mar’, e ela vos obedeceria”. Exagero intencional. A condição “se” é o que limita o poder da utopia. Os dis¬cípulos pedem quantidade, mas Jesus fala de qualidade; bastaria um pouco de fé, contanto que fosse autêntica. “Fé” é palavra muito curta em letras, mas muito longa em significado e alcance; similar a outros dois monossílabos: sim e não, que podem decidir toda uma vida. A súplica dos discípulos corresponde, sem dúvida, a uma situação vaci¬lante deles mesmos ou da comunidade cristã em que se redigiram os evangelhos; situação de crise, frequente por demais na vida de qual¬quer um. Não é um tópico dizer que correm tempos difíceis para a fé, “tempos fortes”, como dizia Santa Teresa de Ávila há séculos. Nunca foi fácil crer de verdade, mas a dúvida e a insegurança parecem ser hoje um elemento do esquema existencial de muitos; hoje, quando caíram tantos apoios sociológicos de uma fé tradicional ou herdada e há menos condicionamentos ambientais e menos tabus sociais, torna- -se mais difícil acreditar. E há não só crise de fé religiosa, também hu¬mana. A relutância a crer torna-se extensiva a todo o programa social, político e económico. Surge o desencanto, o cepticismo e a indife¬rença, tanto nos adultos como, sobretudo, nas novas gerações. Então nasce no coração a indignação diante da injustiça e clamamos conster-

nados: Até quando, Senhor?; ou pedimos, com os apóstolos: Senhor, aumenta-nos a fé. Mas em que consiste a fé?

  1. Uma fé viva e operante. A fé está para além de toda a defini¬ção, porque pertence à esfera psíquica da pessoa, à estrutura e con¬texto da experiência religiosa e pessoal, ao contacto vivencial com Deus no nosso ser mais íntimo. Por tudo isso a fé situa-se no âmbito das vivências e valores como o amor, a amizade, a alegria, a espe¬rança, o medo, a confiança em alguém, numa promessa ou numa pala¬vra dada. “A fé é a segurança do que se espera e prova do que não se vê” (Heb 11,1). Esta é a definição bíblica.

A fé em Deus existe realmente e possui-se como dom seu ao homem, mas é difícil, e até ocioso, tentar defini-la. Escapa a toda a medida física de peso, volume, longitude e profundidade, para entrar no nível do espírito. Por isso é mais fácil saber se cada um tem fé, se pouca se muita, se a perdeu.

Pode parecer decepcionante, mas a fé não nos dá vantagem tempo¬ral alguma, nem é estatuto’ de privilegiados, nem droga alienante ou anestesia perante a dura realidade, nem talismã mágico para resolver os problemas sem custo adicional. Tão-pouco é possessão vitalícia, adquirida de uma vez para sempre. Pode perder-se se não se cuida.

Contudo, a fé – esse dom gratuito de Deus que temos de lhe pedir continuamente – é tudo na nossa vida de cristãos, porque nos dá uma luz que tudo ilumina, porque é optimismo, alegria e força de Deus que nos infunde a têmpera e a vontade de Jesus, todo um estilo novo de enfrentarmos a vida para dar a cara por ele. Por isso a fé em Deus não é reaccionária, mas progressista e construtiva de um mundo melhor, mais justo e mais fraterno.

Necessitamos tanto de uma fé viva e operante… Aprofundemos e personalizemos mais e mais a nossa fé mediante a oração, o estudo, a leitura bíblica, a meditação e os grupos de fé para a acção. E peçamos sempre: Senhor, aumenta-nos a fé!

Obrigado, Senhor Jesus, porque no evangelho mostras-nos hoje o poder da fé autêntica.

Tu és, Senhor, o interlocutor com quem falamos,

E tu, Jesus, o nosso modelo no diálogo da fé.

Concede-nos ao menos um grãozinho de fé verdadeira para dar lugar às tuas maravilhas na nossa vida, para ter luz, optimismo, força e alegria, para crer de verdade nestes tempos difíceis.

Faz, Senhor, que a tua ternura desperte a nossa fé e concede-nos a qualidade e a coragem que tu queres.

Senhor, cremos, mas aumenta a nossa fé!

 

 

ORAÇÃO

VIDEO DE MEDITAÇÃO

 

 

 

Terça-feira

Lc 17,7-10: Fizemos o que devíamos fazer.

O salário do servidor

  1. Somos humildes servidores. O evangelho deste dia contém a parábola lucana sobre o salário do servidor. Na sua redacção actual é dirigida por Cristo aos seus discípulos para nos ensinar a humilde renúncia à autojustiça farisaica no serviço a Deus e à comunidade dos irmãos. Mas é provável que, na sua origem, fosse dita por Jesus para censurar os fariseus que julgavam ter direitos sobre Deus. Os fariseus, isto é, os crentes que valorizam os seus próprios méritos e querem fazer valer os seus direitos diante de Deus, na realidade não passam de uns servos inúteis, incapazes de fazer algo meritório por si mesmos.

A esta atitude mercantilista de contabilidade espiritual, baseada num espírito legalista, isto é, na lei do prémio ao mérito, opõe Jesus tacita­mente outra atitude: a da amizade serviçal e desinteressada, baseada na confiança incondicional em Deus. O autêntico discípulo de Cristo, que veio para servir e não para ser servido, sabe muito bem em quem confiou e em que mãos generosas está a sua recompensa. É o que dizia o apóstolo Paulo no final da sua vida entregue ao evangelho.

Como o fariseu de outra parábola, não seremos aprovados no exame de Deus se preferimos a segurança da lei escrita à aventura do amor sem cálculos, a contabilidade do mérito à fragilidade humana. Porque Deus não gosta da atitude mercantil naqueles que o servem. Para ele estão a mais os contratos salariais e os acordos laborais. Esse não é o cristianismo que Jesus fundou: a religião do sim total. “Quando tiverdes cumprido todas as ordens, dizei: Somos servos inú­teis, fizemos apenas o que devíamos fazer”.

Jesus disse também: O que quiser ser o primeiro entre vós, que se faça o último e o servidor de todos. O nosso principal título de glória consistirá, pois, em sermos esmerados servidores de Deus e dos ir­mãos.

  1. Não queiramos passar factura a Deus. Para Deus não conta o nosso sentido utilitarista da eficácia nem as nossas medidas de justiça laborai, que estabelecem perfeita actuação entre prestação e salário, categoria e remuneração. Assim o explicou Jesus na parábola dos tra­balhadores da vinha (Mt 20,lss). A nossa vida cristã não se pode es­truturar sobre uma contabilidade de deve e haver a respeito de Deus –

 

saldaríamos sempre perdendo mas sobre o seu dom e a sua graça que nos precedem sempre.

Mas também é verdade que o Senhor espera a nossa resposta agradecida, a nossa colaboração livre e responsável. E isso é a nossa alegria e a nossa glória de fiéis servidores: que Deus e Cristo tenham querido “necessitar” da nossa colaboração. Servidores humildes, mas não inúteis.

Deus deve sorrir bonacheiramente diante dos dígitos das nossas cal­culadoras do mérito religioso. Estar baptizado, ser cristão, pertencer à Igreja, cumprir os nossos deveres religiosos para com Deus e os ir­mãos, viver a moral cristã não dá direitos adquiridos nem nos faz me­lhores que os outros. Em suma, “cumprimos as ordens”. E é absurdo que um bom filho pense que o seu pai lhe deve algo porque fez o que devia fazer; além disso, é feio que exija um pagamento pela sua obe­diência. Se pensar, cairá na conta de que tal atitude é desnecessária, pois a sua recompensa está assegurada. Deus não faz injustiça a ninguém. Ele é amor gratuito, mas não injusto nem mal agradecido.

Hoje é altura de rios examinarmos sobre a nossa motivação reli­giosa fundamental. É o amor gratuito a Deus e aos irmãos, ou o amor e o serviço interesseiros? Por qual destes motivos nos guiamos na prática religiosa, na nossa conduta moral e nas relações com os ou­tros? Provavelmente necessitamos de uma conversão profunda para levar uma vida digna do evangelho de Cristo.

Embora Deus nos trate como amigos e nos sente à sua mesa a par­tilhar o pão da eucaristia que é o corpo de Cristo, na realidade não podemos exigir mais do que ser tratados como seus                                            humildes servi­dores. Este é o nosso título de glória; o resto é amor     gratuito                                                                                                                    do   Se­

nhor para connosco.

Hora da tarde, / fim dos trabalhos.

Dono das vinhas, / paga os trabalhos dos teus vinhateiros.

Ao romper o dia, / nos ajustaste.

Cuidamos da tua vinha / desde a alva até à tarde.

Agora que nos pagas, / no-lo dás gratuitamente, porque para salário de glória / não há trabalho grande.

Dás ao vespertino / o mesmo que ao madrugador.

São tuas as horas I e teu o vinhedo.

Àquilo que semeamos / dá-lhe crescimento.

Tu és a vinha, / cuida dos ramos.

Quarta-feira

Lc 17,11-19: Os dez leprosos.

Agradecer é de pessoas educadas

  1. Onde estão os outros nove? A cena evangélica de hoje é tam­bém exclusiva de Lucas, que sente predilecção pelos marginalizados. O relato da cura de dez leprosos por Jesus é um cântico à fé agrade­cida de um só de entre eles, que alcança a salvação plena porque sabe corresponder à gratuitidade de Deus. Jesus está a caminho de Jerusa­lém, e quando ia a entrar numa povoação saíram-lhe ao encontro dez leprosos, que de longe lhe gritavam: Jesus, mestre, tem compaixão de nós. Deles, nove eram judeus e um samaritano; a infelicidade os unia.

Jesus disse-lhes: Ide apresentar-vos aos sacerdotes. A estes com­petia declará-los livres da lepra e reintegrá-los na comunidade do povo eleito. Os leprosos precisaram de confiar na palavra de Cristo, porque a sua cura não foi instantânea, diferentemente de outro leproso curado por contacto (Mc l,40ss; Mt 8,lss). Enquanto iam a caminho senti­ram-se livres da lepra. E um deles, precisamente o samaritano, voltou atrás, glorificando a Deus em alta voz e lançou-se aos pés de Jesus agradecendo-lhe.

O samaritano voltou atrás porque a lei judaica não o obrigava a apresentar-se ao sacerdote, como aos outros nove? Seria desvirtuar o seu gesto, que Jesus realça como acto de glória a Deus. “Não ficaram limpos os dez? Onde estão os outros nove? Não voltou senão este es­trangeiro para dar glória a Deus? E disse-lhe: Levanta-te e vai; a tua fé te salvou”.

A lepra aparece frequentemente no Antigo Testamento como sím­bolo e efeito do pecado. Segundo a lei mosaica, o leproso – enten­dendo sob o nome de lepra diversas doenças da pele – era um margi­nalizado social e religioso, um ferido por Deus, um excluído das promessas da salvação feitas ao povo eleito, um pária intocável (Lv 13). Por isso o milagre de Cristo ultrapassou o significado da mera cura para se situar no nível da salvação de Deus que liberta o homem integralmente.

A verdade é que dos dez curados só um, que além de marginalizado como leproso o era também como samaritano, isto é, como quase herege e excomungado, é que alcançou a salvação em plenitude e não somente a cura física. Tudo graças à sua abertura à gratuitidade do amor de Deus, que ele sabe agradecer; numa palavra, graças à sua fé, como lhe diz Jesus: A tua fé te salvou.

  1. Agradecer a gratuitidade de Deus. Nesses nove que não volta­ram atrás a dar glória a Deus estão reflectidos muitos cristãos que não fomentam o espírito de agradecimento nem repetem a oração de louvor a Deus pelo muito que dele recebem. Devotados talvez à contabilidade espiritual mercantilista – como vimos ontem inclusivamente ao escrú­pulo e à minúcia, vivem numa atitude fechada sobre eles mesmos, sem horizonte e sem abertura à gratuitidade de Deus e ao amòr dos irmãos.

Estes tais esquecem que a Eucaristia, a Missa, é a perene acção de graças cristã por definição e por excelência; mas, sobretudo, esque­cem que a salvação do homem é sempre iniciativa de Deus, que começa por nos dar amor gratuito em abundância através do seu Filho Cristo Jesus. A nós não nos cabe mais do que agradecer como pessoas educadas e responder a Deus com a mesma moeda: amando-o a ele e aos irmãos e confiando plenamente na sua ternura de Pai.

Ao contrário do que pensavam os judeus, e ainda pensam alguns cristãos, a salvação de Deus por Cristo é gratuita e para todos; não se vincula a um determinado povo, religião, raça ou herança familiar. Jesus não se cansou de o repetir em numerosas parábolas que falam da gratuitidade de Deus.

E S. Paulo insistiu teimosamente em que para Deus não há judeus nem gregos, escravos nem livres, mas filhos seus, que são todos os homens. Todo o que no meio de um mundo pluralista crê em Deus, o procura e o serve com coração sincero, salvar-se-á. Para Deus não há elites nem ghettos.

Não nos salva a mera e fácil pertença sócio-religiosa à Igreja, mas a resposta a Deus na fé e na fidelidade quotidiana que se expressa no seguimento dos valores do Reino. E como não podemos reduzir o cris­tianismo a um ritualismo estéril, nem sequer a prática religiosa e sacramental nos assegura e conquista a salvação, se não é expressão de uma adesão pessoal a Cristo e à sua mensagem e se não se trans- vaza para a vida diária.

Obrigado, Pai, porque Jesus, curando os leprosos, mostrou a sua predilecção por todos os marginalizados e mudou o pranto dos pobres em cânticos de libertação.

Realçando o gesto do leproso samaritano,

Jesus ensina-nos a crer em ti e a agradecer os teus dons.

Senhor, estamos deformados como leprosos devido ao nosso orgulho, ânsia de domínio, egoísmo e desamor; mas uma palavra tua bastará para nos curar.

Livra-nos, Senhor, do espírito mesquinho e mercantil . que contabiliza supostos méritos de boa conduta, confinando a salvação de Deus a coutos privados.

Cura-nos do ritualismo estéril e introduz-nos no teu Reino.

 

Quinta-feira

Lc 17,20-25: O reino de Deus está dentro de vós.

O Reino está dentro de vós

O evangelho de hoje tem duas partes. Na primeira Jesus responde à pergunta sobre o quando da vinda do reino de Deus; e na segunda ini­cia o tema do dia do Filho do homem, que continuará no evangelho de amanhã.

  1. Os sinais menos esperados. Uma das questões religiosas que mais afloravam na época de Jesus era o quando e os sinais da chegada do reino de Deus que se identificava com o Reino do seu Messias. No ambiente pairava a expectativa de uma manifestação divina iminente e decisiva a favor de Israel (Lc 19,11). Mas, onde e como descobri-la? Daí a pergunta dos fariseus a Jesus com que começa o evangelho de hoje: Quando vai chegar o reino de Deus?

Cristo começou o seu anúncio da boa nova proclamando aberta­mente a presença do reino de Deus na sua pessoa e obra; por isso era urgente a conversão ao mesmo. Os sinais do Reino? Não eram rigo­rosamente os esperados pelos judeus: força espectacular e poder político avassalador, que esmagaria os romanos opressores e estabele­ceria em todo o seu esplendor o Reino de David. Mais propriamente foram tudo o contrário. Os sinais do reino de Deus, segundo Jesus, são pobreza e humildade, solidariedade com os pobres, cura dos doentes, libertação da mulher, nova religião em espírito e em verdade, novo templo na sua pessoa e, sobretudo, paixão e morte do Messias. Algo desconcertante!

Por isso, respondendo aos fariseus, Jesus insiste hoje em que “o reino de Deus não virá espectacularmente, porque está dentro de vós” (ou “no meio de vós”, segundo outras traduções do original grego: entós hymóri). O reino de Deus está certamente dentro dos que cumprem a vontade do Pai, porque esse é o caminho da realização do seu reinado, como nos ensinou Jesus no Pai-nosso.

Como para o Messias antes do seu triunfo, também para os seus discípulos virão dias de tribulação em que desejarão o regresso de Cristo. Mas não o verão, porque ainda não é o dia marcado para a sua manifestação gloriosa diante de todos os povos, e não só o povo judeu. Quando isso acontecer, todos o verão sem lugar para dúvidas sobre o autêntico Messias e o seu Reino, porque “como o fulgor do relâmpago brilha de um horizonte ao outro, assim será com o Filho do homem no seu dia”.

  1. As etapas do Reino. Segundo Cristo, o reino de Deus não é acessível através da observância da lei mosaica nem se identifica com os portentos e prodígios da apocalíptica tradicional judaica que os evangelhos sinópticos oferecem. A plena manifestação do Reino no dia messiânico não chegará até um futuro imprevisível, mas a sua pre­sença é já um facto no meio do mundo e dos homens.

A história da salvação humana realizada por Deus mediante o seu reinado pode dividir-se, segundo Lucas, nestas etapas: l.a, Uma pre­paração que culmina em João Baptista: “A lei e os profetas chegam até João; daí em diante começa a anunciar-se a boa nova do reino de Deus” (16, 16). 2.a, A pessoa de Jesus, cuja vida e mensagem procla­mam e inauguram já o Reino. 3.a, Reinado do Espírito no tempo da Igreja, como demonstram os Actos dos Apóstolos. 4.a, Futura e plena manifestação do Reino no grande dia messiânico de Cristo. Enquanto não chega esse dia, a Igreja participa do mistério pascal de Jesus: cruz, morte e ressurreição.

O grande futuro e 0 dia final da manifestação messiânica do Reino glorioso que esperamos para os últimos dias começou já na morte e ressurreição de Cristo. Ele recapitulou em si próprio toda a criação e a história da humanidade, das quais foi constituído senhor e salvador pelo Pai Deus. Daí que Jesus afirme: “O reino de Deus está já dentro de vós”. Esta é a verdade chave que relativiza a pergunta escatológica e os sinais da apocalíptica antiga e moderna.

Deus está vindo sem cessar à história humana e à nossa vida pes­soal e eclesial. O tempo humano e o dos anos estão inteiramente nas suas mãos. Mas para saber ler os sinais da sua presença necessitamos da fé como participação da sabedoria admirável de Deus (de que a primeira leitura – Sb 7,22ss: ano ímpar – enumera vinte e um atribu­tos, número bíblico perfeito por duplo motivo: três vezes sete).

Em todo o caso, o reino de Deus não é mera presença imanente do Espírito. Tem uma projecção tanto interna como externa e pede a nossa resposta e compromisso pessoal mediante a conversão efectiva ao mesmo.

Hoje louvamos-te, Pai, porque Jesus nos disse que o teu Reino se encontra já entre nós como semente de amor e de esperança na nossa vida, como fermento da transformação humana e cósmica que provém da morte e ressurreição de Cristo.

Obrigado, Senhor, porque o teu Reino é para os teus filhos paz, justiça e alegria no Espírito Santo.

Dá-nos a tua sabedoria, a ciência e a visão da fé, para captar os sinais da presença do teu Reino; e ajudamos, Senhor, a cumprir a tua vontade fielmente para que o teu reinado seja fecundo em nós. Amen.

Sexta-feira

Lc 17,26-37: O dia do Filho do homem.

O grande dia messiânico

  1. À hora inesperada. Continuando o tema iniciado ontem, Jesus fala no evangelho de hoje, da sua última vinda. Lucas, diferentemente de Mateus e Marcos, manteve em separado duas tradições orais primi­tivas, referentes uma à queda de Jerusalém e outra ao fim do mundo, em que terá lugar o regresso glorioso de Cristo como senhor e juiz. Regresso que os sinópticos designam de “dia do Filho do homem” e Paulo chama “parusia”, termo de linguagem helenística.

O texto evangélico de hoje acentua um aspecto desse dia do Filho do homem: o julgamento, cuja característica é a surpresa do inespera­do. Para expressar isto, Jesus remete-se a duas comparações históri­cas. Do mesmo modo que as pessoas viviam despreocupadas com o fim que as aguardava aquando do dilúvio nos tempos de Noé e aquando da destruição de Sodoma nos tempos de Lot, assim aconte­cerá no dia do Filho do homem.

Como então, também hoje os homens vivem submersos nas reali­dades temporais que absorvem por completo a sua atenção: subsistência diária, família, negócios, dinheiro e prazer. Deus está ausente do seu horizonte, mas um dia manifestar-se-á repentinamente com o seu julga­mento. Então ficará patente o verdadeiro valor da existência humana e, sobretudo, o que há no fundo de cada um e a sua conduta. A ponto de que será muito díspar a sorte de dois que vivem e trabalham juntos, par­tilhando os mesmos anseios, mas não as mesmas atitudes perante Deus.

  1. Sempre preparados. Ao ouvir Jesus, os discípulos pergun­taram-lhe onde teria lugar esse julgamento de Deus. Segundo Jesus, o onde dessa vinda definitiva do Senhor para cada um não tem muito mais importância que o quando, como respondia ontem aos fariseus. “Onde estiver o corpo, aí se reunirão os abutres”. Com este provérbio Jesus vem dizer que o julgamento de Deus terá lugar onde quer que esteja alguém.

O quando, o como e o onde do dia do Senhor são secundários; o que importa é estarmos sempre preparados, como ensinam as parábo­las da vigilância. A chamada de Cristo ao seu seguimento requer uma disponibilidade total, vivendo desinstalados e desprendidos de tudo o que se possui e usa. Tratando-se de Deus e do seu Reino, não se pode olhar para trás como fez a mulher de Lot ao sair de Sodoma; isso foi a sua perdição, pois converteu-se em estátua de sal. Quando Deus chama não há que voltar atrás para recolher haveres que não têm valor nem salvam o homem.

A vida e a história humana continuam como se nada germinasse dentro delas; mas já está aí a semente e o fermento do Reino, que só percebem os que sabem “perder” a sua vida, entregando-a a Deus e aos irmãos, para a recobrar definitivamente. O que conta é a decisão pessoal de cada dia para saber aproveitar o tempo presente.

  1. A espera do dia do Senhor não deve ser motivo de angústia neurótica nem de temor paralisante, mas estímulo no cumprimento da missão que cada um recebeu de Deus. A melhor maneira de estarmos preparados para o seu encontro é fazer confluir na nossa vida a espe­rança e o esforço, o futuro e o presente da fé, a vigilância escatoló- gica e o trabalho diário.

Na segunda carta do apóstolo S. Pedro exortam-se os fiéis a esperar e apressar a vinda do Senhor (3,12s). Pensamento animador e estimu­lante: está nas nossas mãos acelerar o ritmo do advento desse mundo que esperamos em que habite a justiça. Isto é, segundo o conceito bíblico de justiça, temos de propiciar um mundo em que o reinado da vontade de Deus, a plena fidelidade evangélica, o espírito das bem- aventuranças e a irmandade universal sob o nosso Pai comum sejam realidade esplendorosa.

A condição prévia é tornar presente a fidelidade do Reino com a nossa conduta irrepreensível, animados pelo amor da espera e ocupa­dos em servir a Deus e aos irmãos. O futuro sonhado e maravilhoso pode ser realidade já desde agora no nosso desprezível mundo, con­tanto que melhoremos o presente, deitando ombros à tarefa; porque no presente está o gérmen do futuro. Mas não esqueçamos que o deslum­bramento de uma humanidade e um mundo novo não é fruto auto­mático da máquina do tempo nem de revoluções estruturais, mas da conversão das pessoas. Este é o primeiro pressuposto para a mudança social e eclesial.

Bendito sejas, Senhor Deus e Pai de todos, porque no nosso mundo e nas nossas curtas vidas está já actuando a semente eficaz do teu Reino e porque o julgamento que terá lugar no dia de Cristo é nova criação, destruição do pecado e da morte, e salvação para os que vivem a fidelidade quotidiana.

Ensina-nos a relativizar tudo o que não és tu a fim de vivermos disponíveis para ti e para os irmãos.

E ajuda-nos, Senhor, afazer confluir tia nossa vida o futuro e o presente, a esperança e o esforço, para acelerar o dia glorioso da tua vinda. Amen.

 

SÁBADO

Lc 18,1 -8: O juiz corrupto e a viúva suplicante.

A oração é fé em exercício

  1. Rezar serve para alguma coisa? “Para explicar aos discípulos como tinham que rezar sempre sem esmorecer, Jesus contou-lhes uma parábola”: a do juiz corrupto e a viúva suplicante. Assim começa o evangelho de hoje. A conclusão da parábola é clara: Se um juiz que deixa tanto a desejar porque é um perfeito sem-vergonha, que nem teme Deus nem os homens, acaba por fazer justiça a uma pobre viúva que o importuna tenazmente, quanto mais Deus, que é santo e justo, atenderá a oração insistente dos seus filhos.

Uma pergunta frequente no homem actual a respeito da oração é se rezar serve para alguma coisa. A resposta de muitos que entendem a oração só como “pedir favores a Deus” é, simplesmente, para nada. Efectivamente, a oração é inútil para conseguir de um Deus paterna­lista e tapa-buracos o que é nosso dever e está nas nossas mãos rea­lizar. A oração não é para isso.

Pedir favores a Deus: saúde e felicidade, êxito nos negócios e boas colheitas, felicidade e segurança, etc., não é a única finalidade, a razão de ser e o constitutivo da oração. Acentuar unilateralmente estes aspectos é medir utilitária e egoistamente a função da oração cristã, é esquecer que esta é exercício de fé e expressão de religião em espírito e em verdade. Portanto, não se pode confiná-la ao âmbito da magia e da superstição, empenhadas em servir-se de Deus em vez de servi-lo a ele e ao seu Reino. Tudo isso seria deformação caricatural da oração.

Quando Jesus nos ensinou o Pai-nosso, por exemplo, dedicou a primeira parte do mesmo a pedir “para Deus” nosso Pai a santificação do seu nome e a manifestação do seu Reino mediante o cumprimento da sua vontade pela nossa parte. E entre as petições da segunda parte, “para nós”, só uma tem carácter material, e não totalmente: o pão de cada dia, juntamente com o pão da palavra e da eucaristia. O resto é pedir o seu perdão, condicionado ao que nós outorgamos; a nossa fidelidade nas tentações e na grande prova final, juntamente com a vitória sobre o mal e o maligno.

  1. A oração é fé em exercício. Trate-se da prática ou da eficácia da oração, o problema da mesma é questão de fé. É a prece perseverante e sustentada pela confiança que dá a fé que nos consegue o favor de Deus. O clamor da prece continua o grito da fé de tantos que su­plicaram a Jesus pelos caminhos da Palestina. Jesus disse-lhes: Basta que tenhamos um grãozinho de fé.

A oração, quando é autêntica como a que Jesus nos ensinou e prati­cou, brota de uma fé viva, expressa-a e alimenta-a. Toda a nossa vida cristã deve ser oração e diálogo com Deus a nível pessoal e familiar, comunitário e eclesial. A oração é o clima apropriado, a temperatura ambiente ideal para que funcione bem e no topo o nosso computador espiritual.

Por tudo isto necessitamos da oração, que se é feita com fé é sem­pre eficaz porque Deus nos dará o seu Espírito Santo (Lc 11,13), que nos torna filhos de Deus e irmãos dos outros homens. Ê o Espírito que nos torna mais crentes e mais humanos, mais sinceros diante de Deus e melhores por dentro, mais fortes na nossa debilidade e mais pessoas, mais alegres e generosos, mais esperançados e dinâmicos, mais pro­fundos e transparentes. Tudo isso porque entramos em contacto com a fonte da vida, que é o próprio Deus. O nosso Pai não nos abandonará no meio das maiores dificuldades, medos, depressões, solidão e de­senganos. Eis aqui a autêntica eficácia da oração feita com fé.

Conscientes de que não sabemos rezar em profundidade, temos de escutar o Espírito de Cristo que habita em nós e nos dá a segurança de sermos filhos de Deus com a confiança suficiente para lhe chamar Pai. “O Espírito socorre a nossa fraqueza. Pois não sabemos o que pedir como convém; mas o próprio Espírito intercede por nós com gemidos inefáveis” (Rm 8,26). Por isso, às vezes, rezar não é mais que aban- donar-se ao Espírito.

A oração não é um monólogo consigo mesmo, mas um diálogo de fé em exercício e em conversação com o todo Outro. Rezar é fazer com Jesus e como Jesus, modelo supremo de toda a oração cristã, a experiência gratuita e não utilitária de Deus. Tal como o expressa o Pai-nosso.

Deus Pai nosso, Deus fiel às tuas promessas, que não defraudas o que te suplica com fé, escuta o grito ardente da nossa prece.

Reconhecemos, Senhor, que não sabemos orar em profundidade. Dá-nos o Espírito de Cristo que nos ensine a rezar-te.

Apresentamos-te o nosso mundo que geme sob o peso da incredulidade e do desespero.

Quando o cansaço e o desânimo nos rondarem,

dá-nos a tua força, a tua luz, a tua verdade e a tua alegria

para seguirmos firmes na fé até ao dia de Cristo. Amen.

Segunda-feira

Lc 18,35-43: O cego de Jericó.

Os olhos da fé

  1. Fé e seguimento de Cristo. Lucas situa à entrada de Jericó a cura de um cego, cujo nome conhecemos através de Marcos; chamava-se Bartimeu (Mc 10,46). Jesus está já quase no final do seu caminho de subida para Jerusalém, que tanto relevo tem no evangelho de Lucas. Tanto em Marcos como em Lucas o facto acontece depois do terceiro anúncio do Messias sofredor. Os discípulos não com­preendem esta visão nova do Messias e as condições do seguimento de Jesus (Lc 18,34). Estão cegos e necessitam da luz da fé para vencer a sua cegueira espiritual. É o que parece querer insinuar Lucas com o relato do cego Bartimeu.

Depois da sua cura, diz o evangelista que Bartimeu seguiu Jesus glorificando a Deus. Fé e seguimento são dois conceitos fundamentais neste episódio. A primeira comunidade cristã viu neste episódio o es­quema básico de uma catequese baptismal ou de iniciação à fé e ao seguimento de Cristo. Antes de abrir os seus olhos à iluminação do baptismo, isto é, à luz da fé, o catecúmeno deve percorrer as etapas do cego de Jericó: 1) pressentir a presença de Deus nos acontecimentos; 2) vencer os obstáculos que lhe apresenta o mundo que o rodeia e quer silenciar a sua pergunta por Deus (muitos o repreendiam para que se calasse, mas ele gritava mais ainda); 3) romper com o seu passado despojando-se do homem velho (largou o manto, deu um salto e aproximou-se de Jesus); 4) comprometer-se a fundo no diálogo com Deus (Que queres…? Que veja, Senhor); 5) contacto com Cristo me­diante a visão nova da fé (Jesus, filho de David, tem compaixão de mim. Vê de novo, a tua fé te salvou); 6) finalmente, seguir Cristo como testemunha do seu Reino (seguiu-o glorificando a Deus).

O Messias, o filho de David, que está prestes a entrar na sua cidade, Jerusalém, não recusa atender um pobre cego que pede esmola à beira do caminho, porque Jesus não veio para ser servido, mas para fazer-se o servidor de todos. Ser peregrino do Reino com Cristo na sua viagem para a cidade que mata os profetas requer segui-lo passo a passo pelo caminho da renúncia e da cruz até à glória da ressurreição. Este seguimento resume toda a vida cristã.

  1. Os olhos novos da fé. Mas para isso temos de ultrapassar um sério obstáculo: como no caso de Bartimeu, precisamos de acreditar

 

mundo dos homens, como antecipação da última vinda. Para captar essas vindas de Deus faz falta um receptor que capte as ondas. Infelizmente os critérios mundanos interferem continua­mente e o sinal de frequência perde-se. Por isso a vigilância e a oração, a esperança e o discernimento devem andar sempre uni­dos na vida cristã.

Glória a Ti, Senhor, porque durante a tua curta ausência confias em nós e nos aconselhas a tarefa vigilante de um amor que não dorme já que há tanto que fazer. Ensina-nos a unir produtivamente a esperança e o esforço, para acelerar o dia venturoso da vinda do teu reino.

Ajuda-nos também, Senhor, a descobrir as tuas constantes vindas

no decurso da história de cada dia e de cada hora do mundo, no irmão que precisa da nossa ajuda e carinho, no homens e mulheres que sofrem, esperam e Te procuram, para que caminhando juntos na esperança da nova terra alcancemos o novo céu em que habita a tua justiça. Amen.

 

Domingo XXXIV

Don 7,13-14: Contemplava eu as visões da noite, quando, sobre as nuvens do céu, veio alguém semelhante a um filho do homem. Dirigiu-Se para o Ancião ve­nerável e conduziram-no à sua presença. Foi-lhe entregue o poder, a honra e a realeza, e todos os povos e nações O serviram. O seu poder é eterno, não passará jamais, e o seu reino não será destruído.

Ap 1,5-8: Jesus Cristo é a Testemunha fiel, o Primogénito dos mortos, o Prín­cipe dos reis da terra. Aquele que nos ama e pelo seu sangue nos libertou do pe­cado e fez de nós um reino de sacerdotes para Deus seu Pai, a Ele a glória e o po­der pelos séculos dos séculos. Amen. Ei-ÍO que vem entre as nuvens, e todos os olhos O verão, mesmo aqueles que O trespassaram; e por sua causa hão-de la­mentar-se todas as tribos da terra. Sim. Amen. «Eu sou o Alfa e o Omega», diz o Senhor Deus, «Aquele que é, que era e que há-de vir, o Senhor do Universo».

Jo l8,33b-3 7: Naquele tempo, disse Pilatos a Jesus: «Tu és o Rei dos judeus?» Jesus respondeu-lhe; «E por ti que o dizes, ou foram outros que to disseram de Mim?» Disse-Lhe Pilatos: «Porventura eu sou judeu? O teu povo e os sumos sacer­dotes é que Te entregaram a mim. Que fizeste?» Jesus respondeu: «O meu reino não é deste mundo. Se o meu reino fosse deste mundo, os meus guardas lutariam para que Eu não fosse entregue aos judeus. Mas o meu reino não é daqui». Disse- -Lhe Pilatos: «Então, Tu és Rei?» Jesus respondeu-lhe: «E como dizes: sou Rei. Para isso nasci e vim ao mundo, a fim de dar testemunho da verdade. Todo aquele que é da verdade escuta a minha voz».

«O meu reino não é deste mundo»

  1. No momento crítico da máxima debilidade. A festa de Jesus Cristo, Rei do Universo, fecha o ano litúrgico com um acento escatológico e apocalíptico, próprio dos últimos domin­gos de cada ciclo. É precisamente no decurso do processo civil da paixão do Senhor que a leitura de hoje coloca o tema da rea­leza de Cristo. Ele é rei e, contudo, o seu reino não é deste mundo, nem é poder triunfalista, mas serviço à verdade.

As autoridades judaicas querem obter de Pilatos a pena capi­tal de Jesus através de uma acusação que, forçosamente, tinha de preocupar o poder romano: Jesus diz-Se rei dos judeus (Mes­sias), portanto, faz frente a César. Pilatos terá de condená-1’0, se não quiser perder os favores de Tibério. Como o assunto era frívolo, o governador pergunta directamente a Jesus: «Tu és o Rei dos judeus?» E Jesus responde que efectivamente é rei, e não só dos judeus, mas de tudo o que pertence à verdade, cujo primeiro servidor é Ele mesmo. Mas pontualiza: «O meu reino não é deste mundo». Por isso não tem exército nem soldados que o defendam pela força.

A afirmação de Jesus «o meu reino não é deste mundo», pa- rece-nos difícil de entender, como a Pilatos, porque reis e mo­narquias – ou, para falar em termos mais universais, governos e estados nacionais – são conceitos políticos que implicam neces­sariamente o poder temporal, algo que Jesus nega rotundamente em relação a Si próprio. Além disso, o momento em que Cristo faz constar a sua realeza por uma única vez, segundo os quatro evangelistas, é o momento crítico da máxima debilidade: quan­do é processado como um criminoso e está nas mãos do poderes deste mundo.

  1. Cristo é o verdadeiro rei. Cristo é o Rei do Universo por­que o Pai tudo submeteu ao Filho. Mas o seu reino não é deste mundo porque Jesus não assume funções de poder temporal. Então, será Jesus o rei da ilha da fantasia e o seu reino algo tão espiritual que só existe no país das maravilhas? Não. Ele é um rei autêntico, «cujo reino não terá fim», como dizemos no Cre­do. O seu reino não é uma enteléquia etérea; Ele não o inventa como um ilusionista que tira coelhos da cartola. Se Ele Se de­clarou rei é porque a esse título messiânico corresponde uma realidade, um reino com identidade própria.

O reinado de Deus em Jesus Cristo não é poder temporal, de certeza. Mas isso não significa que não esteja presente e não se realize já neste mundo. Jesus ensinou-nos a pedir a Deus no Pai-Nosso: «Venha a nós o vosso reino», aqui e agora, na nossa terra e não só para o fim dos tempos. Contudo, o reino de Deus que pedimos na nossa oração dominical não requer burocracia nem força política para impor a lei evangélica. O reino de Deus é a sua oferta de salvação e a soberania de amor para a vida dos homens, seus filhos. Por isso conta com a liberdade destes, que respeita sempre.

Jesus não tem reino, apesar de se entregar ao Filho do Ho­mem – título messiânico de Jesus – o poder e o reino eterno sobre todas as nações, segundo a primeira das quatro visões apocalíp­ticas do livro do profeta Daniel, donde se retirou a primeira lei­tura.

Como um eco e apoteose disto mesmo temos, na segunda lei­

 

tura, tirada do livro do Apocalipse, uma doxologia cristológica em que, à base de títulos messiânicos, canta-se um hino à rea­leza e soberania de Cristo. Porque Ele é rei e sacerdote, os bap­tizados em Cristo formam um reino de sacerdotes para Deus, e são um povo sacerdotal. Mas sem triunfalismo nem privilégios, pois a realeza de Cristo é serviço à verdade por parte de quem é a Testemunha fiel, o Alfa e o Ómega, o princípio e o fim de toda a Criação.

  1. Ao serviço do reinado de Deus. Nós, «povo de reis e sa­cerdotes para Deus» recebemos de Deus a missão de servir o seu «reino de verdade e vida, de santidade e de graça, de justi­ça, de amor e de paz», as dimensões do reinado de Cristo, Rei do Universo, como reza o prefácio de hoje.

A mentira domina o nosso mundo, tal como a injustiça, se bem que a primeira suscite menos protestos do que a segunda. A mentira e a manipulação da verdade são algo tão comum e habitual a nível interpessoal e informativo, político e social, que parecem banais, tão habituais como o ar contaminado que respi­ramos ou como uma regra tacitamente admitida no jogo da vida. Contudo, nada de sólido se pode construir sobre a mentira, pois somente a verdade nos liberta.

Além do serviço à verdade, temos de aplicar-nos na obra de justiça. Pois uma leitura actual do reinado de Deus em Jesus Cristo recai necessariamente sobre o anúncio e compromisso eficaz pela justiça e por tudo o que esta inclui: amor libertador e fraternidade, paz e reconciliação entre homens e classes so­ciais, direitos humanos e dignidade da pessoa.

Se a realeza de Cristo não se pode entender como triunfalis­mo religioso nem como imposição coactiva do evangelho pela força da lei, pois respeita ajusta autonomia da realidade terrena (GS 36), também não é admissível, e é necessário denunciar, o absentismo cristão. Porque o senhorio e a realeza de Cristo têm de entrar no mundo através dos crentes e da comunidade ecle- sial no seu conjunto; não por meio dos privilégios e influências sociais, certamente, mas pelo serviço da verdade e da justiça, da fraternidade e da convivência no amor, da paz e da libertação integral do ser humano (GS 76). Assim Deus reinará nas vonta­des individuais, nas instâncias sociais, no mundo dos homens.

Quando se derem essas condições, aí estará presente e actuando eficazmente o reinado de Deus por Jesus Cristo.

Hoje louvamos-Te, Pai, porque na ressurreição do teu Filho, Jesus Cristo, constituíste-0 como Rei e Senhor universal de toda a criação com um poder e um reino eterno que não hão-de cessar.

Obrigado, também, porque, por sua vez, Cristo fez de nós,

os baptizados em seu nome,

um reino de sacerdotes para o nosso Deus.

Faz, Senhor, que o teu reino venha ao mundo dos homens,

e dá-nos a força do teu Espírito para manter irrevogável

a nossa entrega pessoal à construção do teu reinado

no nosso mundo: um reino de verdade e de vida,

reino de santidade e de graça, de Justiça, de amor e de paz.

Assim mereceremos alcançar de Ti o reino eterno em Cristo.

Ámen.

 

Santoral

 

 

 

 

 

Agora vou trabalhar na XXXII semana (de 8 a 14 de Novembro. 

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     1108 Lucas 17,1-6 Segunda Feira da XXII Semana do tempo comum 

1109 João 2, 13-22   Terça Feira da XXII Semana do tempo comum 

1110 Lucas 17,11-19 S. Leão Magno Quarta Feira da XXII Semana do tempo comum 

1111 Lucas 17,20-25 S. Martinho  XXII Quinta  Semana do tempo comum 

1112 Lucas 17,26-37 S. Josafá bispo e Mártir   Sexta Feira da XXII Semana do tempo comum 

1113 Lucas 18,1-8 Sábado  da XXII Semana do tempo comum 

1114  Mc 13, 24-32 Domingo do  XXXIII do tempo  Comum 

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