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“‘Sou trigo de Cristo.’ Como Santo Inácio, sejamos grãos lançados à terra pela fé, confiantes de que na doação total nos tornamos pão limpo para o mundo.”
Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São João
Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: «Em verdade, em verdade vos digo: Se o grão de trigo, lançado à terra, não morrer, fica só; mas se morrer, dará muito fruto. Quem ama a sua vida, perdê-la-á, e quem despreza a sua vida neste mundo conservá-la-á para a vida eterna. Se alguém Me quiser servir, que Me siga, e onde Eu estiver, ali estará também o meu servo. E se alguém Me servir, meu Pai o honrará».
Palavra da salvação.
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REFLEXÃO
Eis uma reflexão sobre o Evangelho de João 12, 24-26, relacionada com a mensagem de ser “trigo de Deus” e com a figura de Santo Inácio de Antioquia.
### **Reflexão: O Trigo de Deus.
O Evangelho de hoje apresenta-nos uma das verdades mais fundamentais e desafiadoras da vida cristã: a lei divina do morrer para dar vida. Jesus, ao declarar “Se o grão de trigo, lançado à terra, não morrer, fica só; mas se morrer, dará muito fruto”, não propõe uma simples metáfora agrícola, mas revela o próprio mistério da sua missão redentora e o padrão de existência de todo aquele que O deseja seguir.
Cristo é o grão de trigo original, cuja morte na cruz e ressurreição gerou a multidão incontável de filhos de Deus, a Igreja. Ele é o primeiro a cumprir perfeitamente o princípio que ensina: “Quem ama a sua vida, perdê-la-á, e quem despreza a sua vida neste mundo conservá-la-á para a vida eterna”. Amar a vida aqui significa apegar-se ao ego, ao conforto, ao próprio projeto, fechando-se à vontade do Pai. Desprezá-la, no sentido evangélico, é ter a coragem de a entregar, de a gastar, de a “perder” por amor, na confiança de que só assim se alcança a Vida plena.
Santo Inácio de Antioquia é a encarnação vibrante deste grão de trigo. No seu ardente desejo de martírio, a caminho de Roma, ele não buscava a morte por si mesma, mas a união plena com Cristo. As suas palavras são célebres: “Sou trigo de Cristo, serei moído pelos dentes das feras para me tornar pão limpo”. Ele compreendeu que a sua vida só teria sentido completo se fosse imolada, como o grão, para se tornar puro pão eucarístico, oferta agradável a Deus. O seu “seguir” Jesus até ao local do suplício foi o cumprimento radical do “que Me siga” do Evangelho.
Para nós, hoje, ser “trigo de Deus” significa aceitar morrer diariamente para o nosso egoísmo, comodidade e orgulho. É na pequena mortificação, no serviço humilde, no perdão concedido, na aceitação das cruzes do dia a dia, que o grão da nossa vida se abre para a graça. A promessa de Jesus é clara: este caminho de entrega, que parece uma perda, é o único que conduz ao fruto abundante e à honra do Pai: “E se alguém Me servir, meu Pai o honrará”..
### **Oração .**
Senhor Jesus, grão de trigo bendito, que morrestes para dar-nos a vida eterna, concedei-nos a graça de morrer cada dia para o nosso eu. Que, seguindo-Vos com generosidade, como Santo Inácio, nos deixemos moer pelas provações da vida, para nos tornarmos pão bom e limpo na vossa mão, em alimento para os nossos irmãos. Onde Vós estiverdes, lá desejamos estar também, para sempre. Amen.
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### **Sugestão de Imagem**
**Uma espiga de trigo que cresce de um cálice, com hóstias a brilhar no lugar dos grãos.** Esta imagem simboliza perfeitamente a união do sacrifício (o grão que morre) com a Eucaristia (o fruto que alimenta), ligando a oferta de Cristo e dos mártires como Santo Inácio ao alimento que sustenta a Igreja.