Daily Archives: December 4, 2025

12 07 Domingo Mt 3, 1-12 «Arrependei-vos, porque está perto o reino dos Céus».

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Mateus

Naqueles dias, apareceu João Batista a pregar no deserto da Judeia, dizendo: «Arrependei-vos, porque está perto o reino dos Céus». Foi dele que o profeta Isaías falou, ao dizer: «Uma voz clama no deserto: ‘Preparai o caminho do Senhor, endireitai as suas veredas’». João tinha uma veste tecida com pêlos de camelo e uma cintura de cabedal à volta dos rins. O seu alimento eram gafanhotos e mel silvestre. Acorria a ele gente de Jerusalém, de toda a Judeia e de toda a região do Jordão; e eram batizados por ele no rio Jordão, confessando os seus pecados. Ao ver muitos fariseus e saduceus que vinham ao seu batismo, disse-lhes: «Raça de víboras, quem vos ensinou a fugir da ira que está para vir? Praticai ações que se conformem ao arrependimento que manifestais. Não penseis que basta dizer: ‘Abraão é o nosso pai’, porque eu vos digo: Deus pode suscitar, destas pedras, filhos de Abraão. O machado já está posto à raiz das árvores. Por isso, toda a árvore que não dá fruto será cortada e lançada ao fogo. Eu baptizo-vos com água, para vos levar ao arrependimento. Mas Aquele que vem depois de mim é mais forte do que eu e não sou digno de levar as suas sandálias. Ele batizar-vos-á no Espírito Santo e no fogo. Tem a pá na sua mão: há de limpar a eira e recolher o trigo no celeiro. Mas a palha, queimá-la-á num fogo que não se apaga»..
Palavra da salvação.

REFLEXÃO….

. Preparai o Caminho!

Leitura (Lectio): No Evangelho deste Segundo Domingo do Advento (Mt 3:1-12), escutamos a voz poderosa de João Batista que ressoa no deserto da Judeia. Sua mensagem é direta e urgente: “Arrependei-vos, porque está perto o reino dos Céus“. Ele é “a voz que clama no deserto”, profetizada por Isaías, chamando a preparar o caminho do Senhor. João vive com radical simplicidade, vestindo pêlos de camelo e alimentando-se de gafanhotos e mel silvestre. As pessoas acorrem a ele, confessando pecados e sendo batizadas no Jordão. No entanto, sua pregação não é suave. Dirige-se com severidade aos fariseus e saduceus, chamando-os de “raça de víboras” e exigindo “frutos” de conversão, não apenas linhagem ou rituais vazios. Anuncia Aquele que vem depois dele, mais forte, que batizará “no Espírito Santo e no fogo”, e que, com a pá na mão, separará o trigo da palha.

Esta leitura é iluminada pela primeira leitura de Isaías (Is 11:1-10), que pinta o retrato do Messias esperado: um rebento do tronco de Jessé, sobre quem repousa o Espírito do Senhor. Ele será um rei de justiça e paz, um juiz para os pobres e humildes, que inaugurará uma era de reconciliação cósmica, onde “o lobo viverá com o cordeiro”. São Paulo, na segunda leitura (Rm 15:4-9), convida-nos a acolher-nos uns aos outros como Cristo nos acolheu, alimentando a mesma esperança que vem das Escrituras.

Meditação (Meditatio): O “deserto” onde João Batista prega é mais do que um lugar geográfico. É o espaço interior de austeridade, silêncio e verdade onde nos confrontamos com o essencial. O Advento convida-nos a ir a este deserto.

A conversão (em grego, metanoia) que João exige é uma mudança radical de mentalidade e de direção na vida. Não é um mero sentimento de culpa, mas uma reorientação ativa da existência para acolher o Reino de Deus que está próximo. No contexto da época, a mensagem de João era um choque para uma religiosidade estabelecida que, por vezes, confiava mais na pertença ao povo eleito (“Abraão é nosso pai”) do que numa vida coerente com a Aliança. João desafia essa segurança: “Deus pode suscitar, destas pedras, filhos de Abraão”. A autenticidade da fé prova-se nos “frutos”, nas ações concretas.

O batismo de água de João era um sinal deste arrependimento, mas ele aponta para um batismo superior, no “Espírito Santo e no fogo”, trazido por Jesus. O fogo simboliza tanto a purificação que destrói a palha do pecado, como o entusiasmo do Espírito que inflama os corações. A imagem do machado à raiz da árvore e da pá que limpa a eira fala de urgência e discernimento: o tempo da preparação é agora, e a vinda do Senhor trará um julgamento que separa o que é essencial (o trigo) do que é supérfluo e vazio (a palha).

Oração (Oratio): Senhor Deus, que enviastes João Batista para preparar os caminhos do vosso Filho, dai-nos a graça de escutar, hoje, a sua voz no deserto dos nossos dias. Concedei-nos um coração verdadeiramente arrependido, capaz de reconhecer os nossos caminhos tortuosos. Despertai em nós o desejo sincero de conversão, não de palavras, mas de frutos de justiça, de misericórdia e de paz. Fazei que o fogo do vosso Espírito purifique as nossas intenções e nos aqueça com a esperança da vossa vinda. Ajudai-nos a acolher-nos uns aos outros como Cristo nos acolhe, para que, endireitando as veredas das nossas vidas, possamos receber Aquele que batiza no Espírito Santo. Nós vo-lo pedimos, pela intercessão do Precursor. Amém.

Contemplação (Contemplatio): Contemplar a figura austera e apaixonada de João Batista. Ver a multidão que, movida por um anseio profundo, deixa a cidade e vai ao deserto em busca de sentido e de um novo início. Sentir a água fria do Jordão como símbolo do desejo de purificação. Ouvir o eco do seu grito: “Preparai o caminho!” E deixar que este apelo ecoe nos vales das nossas indiferenças e nos altos montes do nosso orgulho. Contemplar, já ao longe, Aquele que vem, portador do Espírito e do fogo, cumprimento da esperança de Isaías, que traz a justiça suave como a faixa nos rins e a paz reconciliadora entre o lobo e o cordeiro.

Ação (Actio) – Para o Aqui e Agora: O apelo de João Batista é intemporal, mas ressoa com desafios específicos no nosso presente. Descobrimos os nossos “desertos” modernos na solidão urbana, no ruído digital que nos impede de escutar, na ansiedade que nos afasta do essencial. A nossa “conversão” para hoje pode significar:

  • Endireitar veredas nas relações: Praticar o acolhimento e o perdão concretos, como Paulo recomenda, especialmente em ambientes familiares e sociais marcados pela polarização e intolerância.

  • Dar frutos de justiça: Como o Messias de Isaías que defende os pobres e oprimidos, a nossa fé deve traduzir-se em ações que promovam a dignidade humana, a equidade e a compaixão para com os mais vulneráveis.

  • Rejeitar a religiosidade vazia: Examinar se não confiamos mais em “rótulos” (ser católico, praticante) do que numa busca humilde e constante da vontade de Deus, que se manifesta no serviço aos irmãos.

  • Criar espaços de deserto: Buscar momentos de silêncio e oração neste tempo de Advento, para escutar a Palavra e discernir o que, em nossa vida, é trigo a guardar e palha a queimar.


Pequena Oração Pré-Natalícia

Ó Menino Deus, que estais prestes a chegar na fragrância do heno e no brilho da estrela,
nós, que ainda caminhamos na espera do Advento,
preparamos para Vós não um berço de madeira, mas o presépio do nosso coração.

Vinde limpar a eira da nossa alma com a pá do vosso amor.
Afastai a palha da pressa, do consumismo e da indiferença que tantas vezes nos envolve.
Reuni, como trigo precioso no celeiro, a nossa atenção aos que sofrem,
a nossa paciência em família, a nossa alegria simples de quem sabe esperar.

Ajudai-nos a endireitar, nestes dias, o caminho por onde haveis de entrar:
um caminho de portas abertas à reconciliação, de estradas niveladas pela justiça,
e de veredas iluminadas pela esperança de que, em cada noite de Natal,
renasce a possibilidade da Paz.

Vinde, Senhor Jesus, despertai-nos do sono da rotina.
Fazei do nosso tempo de espera uma vigília ativa e alegre,
para que, quando surgirdes na humildade de Belém,
nosso “sim” de acolhida seja tão genuíno como o dos pastores e tão cheio de fé como o de Maria.

.

 

.

12 06 Sábado (Mt 9, 35 – 10, 1. 6-8).Compaixão de Jesus e a missão dos doze

​.

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Mateus (Mt 9, 35 – 10, 1. 6-8).

.Naquele tempo, Jesus percorria todas as cidades e aldeias, ensinando nas sinagogas, pregando o Evangelho do reino e curando todas as doenças e enfermidades
Ao ver as multidões, encheu-Se de compaixão, porque andavam fatigadas e abatidas, como ovelhas sem pastor…..
Jesus disse então aos seus discípulos: «A seara é grande, mas os trabalhadores são poucos. Pedi ao Senhor da seara que mande trabalhadores para a sua seara».Depois chamou a Si os seus Doze discípulos e deu-lhes poder de expulsar os espíritos impuros e de curar todas as doenças e enfermidades.. .Jesus deu-lhes também as seguintes instruções: «Ide às ovelhas perdidas da casa de Israel. Pelo caminho, proclamai que está perto o reino dos Céus. Curai os enfermos, ressuscitai os mortos, sarai os leprosos, expulsai os demónios. Recebestes de graça, dai de graça».

​..1. Lectio (Leitura e Escuta)

A Palavra de hoje (Mt 9, 35 – 10, 1. 6-8) desenha o Messias que o Advento nos convida a acolher. Jesus não é um Mestre distante, mas um Mestre que caminha (“percorria todas as cidades e aldeias”). O Seu ensino e as Suas curas não são apenas atos isolados, mas a pregação ativa do reino. O ponto de viragem do Evangelho é o Seu olhar: «Ao ver as multidões, encheu-Se de compaixão, porque andavam fatigadas e abatidas, como ovelhas sem pastor.» Este olhar é o motor de toda a Sua missão. Escutar esta passagem no Advento é reconhecer que a Vinda de Deus (o Natal) nasce da compaixão pelo nosso cansaço e pela nossa orfandade espiritual.

2. Meditatio (Meditação e o Nascimento do Senhor)

A compaixão de Jesus é mais do que um sentimento; é uma urgência missionária. Ele não Se limita a sentir; age imediatamente ao confrontar os discípulos com a realidade: «A seara é grande, mas os trabalhadores são poucos.» O Natal, ao trazer-nos o Verbo Encarnado, é a maior manifestação desta compaixão, pois Deus desce até à nossa fragilidade para nos pastorear…

O Menino no presépio é a resposta de Deus à multidão fatigada e abatida. A nossa preparação para o Natal deve refletir esta compaixão. Como podemos ser “trabalhadores” na seara do Senhor neste tempo? A conversão do Advento é uma conversão da indiferença para a compaixão. Não podemos esperar pelo nascimento de Jesus de braços cruzados enquanto a “seara” (os nossos vizinhos, os nossos irmãos) está pronta a ser colhida.
O envio dos Doze com o poder de «Curai os enfermos… proclamai que está perto o reino dos Céus» não é apenas histórico; é um imperativo para a nossa vida de fé. A melhor maneira de preparar o caminho do Senhor é ser, nós próprios, a Sua compaixão em ação: curar as feridas dos outros com a nossa caridade, ressuscitar a esperança com o nosso testemunho, e proclamar a Boa Nova de que Deus está perto.

3. Oratio e Contemplatio (Oração e Fruto)

A ordem final, «Recebestes de graça, dai de graça», ilumina o verdadeiro espírito natalício. O Advento é a espera do Dom, e o Natal é a sua entrega. O nosso coração deve preparar-se para receber o Amor e, imediatamente, dar este Amor. O fruto da nossa oração é o impulso para a missão. Contemplar o presépio é contemplar Aquele que, sem pastor, Se fez nosso Pastor e nos enviou. Pedimos a Deus que aumente a nossa compaixão para que a nossa fé seja um serviço ativo e gratuito.

Oração do Advento

Senhor Jesus Cristo, Pastor de almas fatigadas,
Neste Advento, pedimos o dom do Teu olhar:
Olha a nossa vida e as multidões à nossa volta com a mesma compaixão que Te moveu.
Desperta em nós o desejo de sermos trabalhadores na Tua seara,
para que não fiquemos parados, mas anunciemos, com a nossa vida,
que o Reino dos Céus está perto.
Dá-nos a generosidade de darmos de graça o que de graça recebemos.
Que a Tua Vinda nos encontre em plena missão, a curar as feridas do mundo
e a apontar para a Luz do Natal.
Ámen.