10 04 Sábado  Lc 10, 17-24  «Alegrai-vos porque os vossos nomes estão escritos nos Céus»

10 04 Sábado  Lc 10, 17-24  «Alegrai-vos porque os vossos nomes estão escritos nos Céus»

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Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas
Naquele tempo, os setenta e dois discípulos voltaram cheios de alegria, dizendo: «Senhor, até os demónios nos obedeciam em teu nome». Jesus respondeu-lhes: «Eu via Satanás cair do céu como um relâmpago. Dei-vos o poder de pisar serpentes e escorpiões e dominar toda a força do inimigo; nada poderá causar-vos dano. Contudo, não vos alegreis porque os espíritos vos obedecem; alegrai-vos antes porque os vossos nomes estão escritos no Céu». Naquele momento, Jesus exultou de alegria pela ação do Espírito Santo e disse: «Eu Te bendigo, ó Pai, Senhor do céu e da terra, porque escondeste estas verdades aos sábios e aos inteligentes e as revelaste aos pequeninos. Sim, ó Pai, porque assim foi do teu agrado. Tudo Me foi entregue por meu Pai; e ninguém sabe o que é o Filho senão o Pai, nem o que é o Pai senão o Filho e aquele a quem o Filho o quiser revelar». Voltando-Se depois para os discípulos, disse-lhes: «Felizes os olhos que veem o que estais a ver, porque Eu vos digo que muitos profetas e reis quiseram ver o que vós vedes e não viram e ouvir o que vós ouvis e não ouviram».
Palavra da salvação…

REFLEXÃO..

**1. Lectio (Leitura): O que diz o texto?**

Os setenta e dois discípulos regressam da sua missão transbordantes de alegria pelos resultados obtidos: “Senhor, até os demónios nos obedeciam em teu nome”. Jesus confirma o poder que lhes deu sobre as forças do mal, mas corrige imediatamente o foco da sua alegria. A verdadeira causa de júbilo não deve ser o sucesso apostólico, o poder sobre os espíritos, mas sim uma realidade infinitamente mais profunda e estável: “alegrai-vos antes porque os vossos nomes estão escritos no Céu”. Segue-se um dos momentos mais íntimos do Evangelho: Jesus, “exultando de alegria pela ação do Espírito Santo”, eleva um hino de ação de graças ao Pai. Ele bendiz o Pai por ter revelado os mistérios do Reino não aos sábios e inteligentes segundo o mundo, mas aos “pequeninos”. Esta eleição divina é fruto da vontade benevolente do Pai. Jesus conclui afirmando a sua relação única com o Pai e a sua missão de O revelar, e declara bem-aventurados os discípulos por testemunharem o cumprimento das promessas que muitos profetas e reis desejaram ver.

**2. Meditatio (Meditação): O que Deus me diz através do texto?**

O coração deste texto é um **redirecionamento da alegria**. A alegria inicial dos discípulos é genuína, mas está centrada no êxito, no poder e no triunfo visível. Jesus não condena esta alegria, mas eleva-a, apontando para a sua fonte última: a identidade deles como filhos amados de Deus, cujo destino é a vida eterna. A salvação, o ser conhecido e amado por Deus, é um dom infinitamente maior do que qualquer sucesso ministerial. Esta alegria não depende das circunstâncias: permanece intacta no fracasso, na perseguição e na obscuridade.

A ação de graças de Jesus revela o critério de Deus, que inverte a lógica do mundo: a revelação é dada aos “pequeninos”, aos que têm o coração simples, humilde e dependente. Não é uma questão de capacidade intelectual, mas de abertura de coração. A verdadeira sabedoria é recebida como um dom, não conquistada como um troféu.

**3. Oratio (Oração): O que eu digo a Deus a partir do texto?**

Ó Pai, Senhor do Céu e da Terra,
nós Vos damos graças porque escondestes os vossos mistérios aos orgulhosos
e os revelastes aos corações humildes e simples.
A nossa tendência, como a dos primeiros discípulos,
é procurar a alegria nos sucessos, no reconhecimento e nas obras visíveis.
Jesus Cristo, Vosso Filho, corrige o nosso olhar:
ensinai-nos a encontrar a verdadeira e inabalável alegria
no simples e maravilhoso facto de sermos vossos filhos e filhas,
de termos os nossos nomes gravados no vosso Coração para sempre.
Que, como São Francisco, nos gloriemos apenas nas nossas fraquezas
e na vossa graça, que nos basta.
Fazei-nos pequeninos, para podermos receber a grandeza do vosso Amor.
Ámen.

**4. Contemplatio (Contemplação): Relacionando com São Francisco de Assis**

A vida de São Francisco de Assis (1182-1226) é uma encarnação perfeita deste evangelho. Quando os discípulos regressam cheios do poder de expulsar demónios, podemos pensar no Francisco inicial, cheio de entusiasmo e de uma certa exaltação heroica. Mas a sua verdadeira conversão foi um processo de se tornar um “pequenino” a quem o Pai se revela..

Francisco encontrou a sua alegria definitiva não nos sucessos (que foram muitos, com milhares a segui-lo), mas na **pobreza radical e no amor à Cruz**. A sua alegria transbordante, cantada no “Cântico das Criaturas”, brotava da certeza de ser um filho amado do Pai, irmão de Cristo pobre e crucificado. Ele, o *Poverello*, era um dos “pequeninos” que captou a revelação divina. A famosa cena do seu abraço ao leproso simboliza esta opção pelos “pequenos” e rejeitados, onde descobriu a verdadeira grandeza.

A sua mensagem central – a alegria perfeita – ecoa diretamente as palavras de Jesus: a verdadeira alegria não está em expulsar demónios ou converter reis, mas em suportar com paciência e amor as dificuldades, as humilhações e as incompreensões, identificando-se com a Paixão de Cristo. Para Francisco, ter o nome “escrito no Céu” significava amar e seguir a Jesus sem nada possuir, encontrando a paz na total confiança no Pai. A sua vida é um testemunho de que a maior missão é tornar-se, cada vez mais, um “pequenino” que se deixa revelar o amor do Pai pelo Filho.

**Mensagem para Cristãos Comprometidos:**

Irmãos, no nosso zelo apostólico, podemos cair na tentação de medir o valor do nosso serviço pelos resultados quantificáveis. Jesus, hoje, e Francisco de Assis, com a sua vida, lembram-nos que o coração da missão é a **conversão do nosso próprio coração** para a simplicidade e a humildade. A verdadeira fecundidade nasce não da nossa capacidade, mas da nossa docilidade ao Espírito. A nossa alegria mais profunda deve ser a de saber-nos amados e salvos por Deus, independentemente dos frutos que colhemos. Sejamos, pois, “pequeninos”: confiantes, alegres na provação, agradecidos pelo essencial. Assim, o nosso testemunho será autêntico e atraente, porque reflectirá não o nosso sucesso, mas a graça de Deus que age nos humildes.

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