09 21 Lc 16, 1-13 «Não podeis servir a Deus e ao dinheiro»

Domingo EVANGELHO – Forma longa Lc 16, 1-13

«Não podeis servir a Deus e ao dinheiro»

Jesus ensina que o dinheiro deve ser administrado com sabedoria, a sabedoria de Deus, e não com avareza ou ganância. O dinheiro serve muitas vezes para fins vis; para o conseguir há quem não hesite em tomar atitudes cheias de astúcia e mentira, como o administrador de que fala a parábola. O Senhor convida-nos a pormos, pelo menos, tanto cuidado em usá-lo bem, como ele o fez, embora de maneira má, para grangear amigos que depois o acolhessem.

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas

Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: «Um homem rico tinha um administrador, que foi denunciado por andar a desperdiçar os seus bens. Mandou chamá-lo e disse-lhe: ‘Que é isto que ouço dizer de ti? Presta contas da tua administração, porque já não podes continuar a administrar’. O administrador disse consigo: ‘Que hei de fazer, agora que o meu senhor me vai tirar a administração? Para cavar não tenho força, de mendigar tenho vergonha. Já sei o que hei de fazer, para que, ao ser despedido da administração, alguém me receba em sua casa’. Mandou chamar um por um os devedores do seu senhor e disse ao primeiro: ‘Quanto deves ao meu senhor?’. Ele respondeu: ‘Cem talhas de azeite’. O administrador disse-lhe: ‘Toma a tua conta: senta-te depressa e escreve cinquenta’. A seguir disse a outro: ‘E tu quanto deves?’. Ele respondeu: ‘Cem medidas de trigo’. Disse-lhe o administrador: ‘Toma a tua conta e escreve oitenta’. E o senhor elogiou o administrador desonesto, por ter procedido com esperteza. De facto, os filhos deste mundo são mais espertos do que os filhos da luz, no trato com os seus semelhantes. Ora Eu digo-vos: Arranjai amigos com o vil dinheiro, para que, quando este vier a faltar, eles vos recebam nas moradas eternas. Quem é fiel nas coisas pequenas também é fiel nas grandes; e quem é injusto nas coisas pequenas também é injusto nas grandes. Se não fostes fiéis no que se refere ao vil dinheiro, quem vos confiará o verdadeiro bem? E se não fostes fiéis no bem alheio, quem vos entregará o que é vosso? Nenhum servo pode servir a dois senhores, porque, ou não gosta de um deles e estima o outro, ou se dedica a um e despreza o outro. Não podeis servir a Deus e ao dinheiro».

Palavra da salvação.

### **Lectio Divina: Lucas 16, 1-13**

**1. Ler o Texto (Lectio)**

O texto narra a parábola de um administrador astuto e desonesto que, prestes a ser despedido por desperdiçar os bens do seu senhor, age com esperteza. Ele reduz as dívidas dos devedores do seu patrão para granjear a sua gratidão e assegurar um lugar para si no futuro. Surpreendentemente, o senhor elogia a sua astúcia, não a sua desonestidade. Jesus usa esta história complexa para contrastar a astúcia “dos filhos deste mundo” com a, por vezes, ingenuidade “dos filhos da luz”. A lição central é que os discípulos devem usar os bens materiais (“o vil dinheiro”) com a mesma prontidão e inteligência, mas para fins nobres: fazer o bem e ganhar amigos para o Reino dos Céus. A parábola culmina na afirmação radical da incompatibilidade de servir a dois senhores: Deus e o Dinheiro.

**2. Compreender o Texto (Meditatio)**

* **A Astúcia do Administrador:** O elogio não é à sua imoralidade, mas à sua previsão, à sua ação decisiva em face de uma crise para garantir o seu futuro. Ele usou os recursos à sua disposição (ainda que de forma errada) para construir pontes para o que vinha a seguir.
* **”Filhos da Luz”:** Este termo refere-se aos discípulos de Jesus, aqueles que conhecem a verdade de Deus. Jesus questiona por que muitas vezes são menos sábios, menos criativos e menos dedicados em sua busca pelo Reino do que os mundanos o são em sua busca pela riqueza e segurança terrena.
* **”Arranjai amigos com o vil dinheiro”:** Esta é a aplicação prática da parábola. O “vil dinheiro” (mamona, riqueza injusta) é temporário e corruptível. Jesus ensina a transformá-lo em bem eterno: usar a riqueza para ajudar os necessitados, promover a justiça e apoiar a obra de Deus. Essas pessoas, ajudadas pela nossa fidelidade, tornar-se-ão “testemunhas” a nosso favor nas “moradas eternas”.
* **Fidelidade no Pouco:** A gestão do dinheiro é um “teste” à nossa confiabilidade. Deus não nos pode confiar as verdadeiras riquezas espirituais (o “verdadeiro bem”) se formos infiéis na administração dos bens materiais, que são pequenos e transitórios.
* **A Incompatibilidade Fundamental:** O versículo final é a conclusão lógica. O dinheiro exige lealdade total, torna-se um ídolo que compete com Deus. O coração humano não pode ter dois centros; a sua devoção será sempre para um ou para outro.

**3. Aplicar à Vida (Contemplatio + Actio)**

* Como eu uso os bens materiais que Deus me confiou? Uso-os apenas para meu conforto ou os coloco a serviço do bem, ajudando os outros?
* Sou “astuto” e “prudente” nas coisas de Deus? Invisto tanto tempo, energia e criatividade na minha vida espiritual quanto invisto no meu trabalho ou nos meus hobbies?
* O que a forma como lido com o meu dinheiro (ganhar, gastar, poupar, doar) revela sobre as minhas verdadeiras prioridades? Quem é o meu senhor: Deus ou a segurança financeira?
* Quem são os “amigos” que estou a “granjear” para a vida eterna através da minha generosidade aqui na terra?

**4. Oração (Oratio)**

Senhor Jesus,
que paradoxal e desafiadora é a Tua Palavra hoje.
Dás-nos o exemplo de um homem desonesto
para nos ensinares a sermos sábios na fé.

Ajuda-nos a compreender que todos os bens que possuímos
nos são confiados por Ti para serem administrados com amor.
Dá-nos a sabedoria dos “filhos da luz”,
a coragem de usar a nossa inteligência e os nossos recursos
não para acumular egoisticamente,
mas para construir o Teu Reino de justiça e paz.

Que a nossa fidelidade nas pequenas coisas do dia a dia,
no uso honesto e generoso do dinheiro,
nos torne dignos de recebermos as riquezas eternas que nos prometes.
Liberta-nos da escravidão do ter mais
e fixa o nosso coração apenas em Ti, nosso único Deus e Senhor.
Ámen.

**5. Mensagem Apelativa**

Não sejas ingénuo. O mundo age com astúcia pelo que é passageiro. Sê tu mais astuto ainda pelo que é eterno. Usa tudo o que tens nas mãos – tempo, talento e dinheiro – como um instrumento para fazer o bem. Transforma a riqueza terrena em tesouro no Céu. A tua maior segurança não está no que guardas no banco, mas nas pessoas a quem ajudaste a levantar. Escolhe hoje a quem queres servir.

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