INTRODUÇÃO AO ESPÍRITO DA CELEBRAÇÃO
**Encontro com Deus e busca de sentido**
Ao iniciarmos esta Eucaristia, somos convidados a aprofundar a nossa relação com Deus e a reconhecer a nossa necessidade Dele. É um momento de encontro, tanto individual quanto comunitário, onde a nossa busca por paz, segurança e sentido para a existência é acolhida.
Revelação de Deus
Deus fala e transforma
Deus revela-Se para nos transformar. Compreender a Sua palavra leva-nos ao arrependimento e ao compromisso de melhoria contínua. Convertidos e fortalecidos, somos enviados em missão para levar a paz e o sentido da existência ao mundo. Somos chamados a testemunhar e partilhar o Seu amor, esperança e graça.
Conclusão
Que esta celebração inspire entrega profunda, arrependimento sincero e renovada disposição para a missão.
PALAVRA
Queridos irmãos e irmãs, Hoje a liturgia oferece-nos um itinerário exigente e belo, que nos ajuda a compreender o que significa viver segundo o coração de Deus e ser discípulos de Cristo. A primeira leitura, retirada do Livro da Sabedoria, coloca-nos diante de uma pergunta fundamental: “Quem poderá conhecer os desígnios de Deus?”. A sabedoria humana, por si só, é limitada e frágil. Quantas vezes a nossa razão se perde nas coisas pequenas e passageiras, e temos dificuldade em perceber o sentido último da vida! Mas o texto acrescenta uma resposta cheia de esperança: é o Espírito de Deus que nos conduz e nos ensina a discernir. A sabedoria verdadeira não é fruto apenas do esforço humano, mas dom concedido àqueles que se abrem humildemente a Deus. Maria, Nossa Senhora, é o exemplo perfeito: acolheu a Palavra, deixou-se guiar pelo Espírito e viveu em obediência de fé. Assim nos mostra que sabedoria é colocar Deus no centro e deixar que seja Ele a iluminar as nossas escolhas.
O Salmo 89 continua esta reflexão. O salmista contempla a brevidade da vida humana e reconhece a grandeza da eternidade divina: “Mil anos, a teus olhos, são como o dia de ontem que passou”. A experiência do tempo e da fragilidade faz-nos pedir: “Ensinai-nos a contar os nossos dias, para chegarmos à sabedoria do coração”. Aqui descobrimos que a verdadeira sabedoria é viver cada dia como dom, não como posse. O coração sábio não é o que acumula experiências ou conhecimentos, mas o que sabe viver em gratidão, em confiança e em fidelidade a Deus. Que esta oração seja também nossa: aprender a viver o presente com intensidade, sem medo, conscientes de que a vida se cumpre em Deus e não nas nossas seguranças.
Na segunda leitura, São Paulo escreve a Filemon sobre Onésimo, o escravo fugitivo que encontrou o Evangelho e se tornou cristão. Paulo pede que Filemon o receba não como escravo, mas como irmão amado. É uma das passagens mais tocantes do Novo Testamento, porque mostra como a fé em Cristo transforma radicalmente as relações humanas. Onde o mundo vê divisões, categorias sociais e desigualdades, a fé revela fraternidade e dignidade. Aqui está o coração do cristianismo: sermos irmãos, não por conveniência ou simpatia, mas porque somos todos filhos de Deus. Este apelo à reconciliação é profundamente atual: também nós somos chamados a ultrapassar muros, preconceitos e feridas, deixando que a fraternidade cristã seja testemunho vivo da presença de Cristo no mundo.
E chegamos ao Evangelho de Lucas, talvez a passagem mais exigente de todas. Jesus fala à multidão que O segue e não esconde a radicalidade de ser discípulo. “Se alguém vem ter comigo e não renuncia a pai, mãe, mulher, filhos, irmãos, irmãs, e até à sua própria vida, não pode ser meu discípulo.” Estas palavras podem parecer duras, mas Jesus não fala de ódio literal. Ele usa linguagem semítica, de contraste, para dizer que o amor a Deus deve estar acima de todas as outras realidades. O discípulo de Cristo não desvaloriza a família, mas coloca Cristo no centro, de onde brota um amor mais puro e verdadeiro.
Depois, Jesus acrescenta duas parábolas: a da torre e a do rei que vai à guerra. Ambas falam de calcular o custo antes de agir. Ser cristão não é um improviso, nem um entusiasmo passageiro. É uma decisão ponderada, consciente e total. Seguir Cristo significa renunciar ao egoísmo, às seguranças falsas, às riquezas que nos prendem. Ele conclui: “Quem não renunciar a todos os seus bens não pode ser meu discípulo.” Não é uma condenação da posse em si, mas uma advertência: tudo deve estar subordinado a Cristo, nada pode ocupar o lugar que Lhe pertence no coração humano.
Percebemos, assim, como todas as leituras se unem. A Sabedoria ensina-nos a procurar os desígnios de Deus. O Salmo recorda-nos a fragilidade da vida e convida-nos a viver com sabedoria de coração. A carta a Filemon mostra-nos que a fé transforma relações e constrói fraternidade. O Evangelho aponta para a exigência radical de colocar Cristo no centro da vida, acima de tudo.
Hoje somos convidados a perguntar: qual é o lugar de Cristo no meu coração? É realmente o primeiro, ou há amores, seguranças e apegos que ocupam o espaço que só a Ele pertence? Estou disposto a viver esta entrega total, sabendo que só assim se encontra a verdadeira liberdade?
A resposta não é simples. O mundo oferece-nos muitas distrações e caminhos fáceis. Mas o Senhor não nos pede o impossível: Ele dá-nos o Seu Espírito, como lemos no Livro da Sabedoria, para que possamos discernir, escolher e permanecer fiéis. Dá-nos também a comunidade cristã, como Filemon e Onésimo, para que vivamos na fraternidade e nos apoiemos mutuamente. Dá-nos ainda a oração do salmo, que nos ensina a medir os dias e a viver em confiança.
Sigamos, pois, o convite de Jesus. Não com medo, mas com a certeza de que só n’Ele encontramos a vida verdadeira. Que Maria, Mãe da Sabedoria e perfeita discípula, nos ajude a colocar Cristo acima de tudo, a viver cada dia com sabedoria de coração e a transformar as nossas relações em sinais vivos do Reino de Deus.
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