Daily Archives: July 29, 2025

08 03 Lc 12, 13-21 Domingo «O que preparaste, para quem será?»

Cena simbólica dividida em duas metades: À esquerda: um homem vestido ricamente, de costas, a contemplar grandes celeiros cheios de trigo e bens, mas com um olhar vazio, isolado no seu mundo material. O céu ao fundo começa a escurecer. À direita: uma figura luminosa de Jesus, rodeado por pessoas simples, partilhando o pão com os pobres, com rostos serenos e corações abertos. O céu é claro e aberto, irradiando luz.

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas

Naquele tempo, alguém, do meio da multidão, disse a Jesus: «Mestre, diz a meu irmão que reparta a herança comigo». Jesus respondeu-lhe: «Amigo, quem Me fez juiz ou árbitro das vossas partilhas?». Depois disse aos presentes: «Vede bem, guardai-vos de toda a avareza: a vida de uma pessoa não depende da abundância dos seus bens». E disse-lhes esta parábola: «O campo dum homem rico tinha produzido excelente colheita. Ele pensou consigo: ‘Que hei de fazer, pois não tenho onde guardar a minha colheita? Vou fazer assim: Deitarei abaixo os meus celeiros para construir outros maiores, onde guardarei todo o meu trigo e os meus bens. Então poderei dizer a mim mesmo: Minha alma, tens muitos bens em depósito para longos anos. Descansa, come, bebe, regala-te’. Mas Deus respondeu-lhe: ‘Insensato! Esta noite terás de entregar a tua alma. O que preparaste, para quem será?’. Assim acontece a quem acumula para si, em vez de se tornar rico aos olhos de Deus».

Palavra da salvação.

REFLEXÃ0

Lectio – Escuta da Palavra

O Evangelho de hoje (Lc 12, 13-21) insere-se num contexto em que Jesus se dirige a multidões, ensinando com autoridade sobre os caminhos do Reino. Um homem pede a Jesus que intervenha num litígio familiar relacionado com heranças — algo comum na sociedade judaica, onde a partilha dos bens familiares podia gerar conflitos entre irmãos. Mas Jesus recusa esse papel de juiz e conduz os ouvintes a um nível mais profundo: a relação com os bens materiais e o verdadeiro sentido da vida. Ele denuncia a avareza, o desejo insaciável de possuir, e conta uma parábola que mostra a ilusão da segurança nos bens acumulados. O rico pensa apenas em si, no seu conforto, e esquece Deus e os outros. Morre sem estar preparado para o encontro com o Senhor.

Oratio – Resposta em oração

Senhor Jesus, alertas-me para não confiar nas riquezas, nem fazer delas o centro da minha vida. Mostra-me que a vida verdadeira está em ser rico aos olhos de Deus, não em acumular bens terrenos. Dá-me um coração desapegado e generoso, atento às necessidades dos outros. Que a minha alma não adormeça na ilusão do conforto, mas esteja desperta para a Tua vontade e para o amor ao próximo.

Contemplatio – Silêncio adorante
Contemplo a figura do homem rico: rodeado de abundância, mas sozinho, fechado nos seus planos. Contemplo também a voz de Deus que o desperta da ilusão: “Insensato!”. É um convite a viver com sabedoria e a dar prioridade ao que é eterno. No silêncio, deixo ressoar em mim esta pergunta: “O que preparaste, para quem será?”.

Mensagem:
A vida não depende do que temos, mas do amor que damos e da comunhão que vivemos com Deus e com os irmãos. Ser rico aos olhos de Deus é viver com generosidade, sabedoria e fé.

Frase apelativa:
Não guardes tesouros nos celeiros da terra; abre o coração ao céu.

08 02 Mt 14, 1-12 Sábado Mt 14, 1-12 «Herodes mandou decapitar João na cadeia e os seus discípulos foram dar a notícia a Jesus»

08 02 Mt 14, 1-12 Sábado Mt 14, 1-12 «Herodes mandou decapitar João na cadeia e os seus discípulos foram dar a notícia a Jesus»

 Uma **vela acesa numa cela escura**, simbolizando a luz da verdade que brilha mesmo na prisão e a esperança que não se apaga.

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Mateus

Naquele tempo, o tetrarca Herodes ouviu falar da fama de Jesus e disse aos seus familiares: «Esse homem é João Batistaque ressuscitou dos mortos. Por isso é que nele se exercem tais poderes miraculosos». De facto, Herodes tinha mandado prender João e algemá-lo no cárcere, por causa de Herodíades, a mulher de seu irmão Filipe. Porque João dizia constantemente a Herodes: «Não te é permitido tê-la por mulher». E embora quisesse dar-Lhe a morte, tinha receio da multidão, que o considerava como profeta. Ocorreu entretanto o aniversário de Herodes e a filha de Herodíades dançou diante dos convidados. Agradou de tal maneira a Herodes, que este lhe prometeu com juramento dar-lhe o que ela pedisse. Instigada pela mãe, ela respondeu: «Dá-me agora mesmo num prato a cabeça de João Batista». O rei ficou consternado, mas por causa do juramento e dos convidados, ordenou que lha dessem e mandou decapitar João no cárcere. A cabeça foi trazida num prato e entregue à jovem, que a levou a sua mãe. Os discípulos de João vieram buscar o seu cadáver e deram-lhe sepultura. Depois foram dar a notícia a Jesus.

Palavra da salvação.

Reflexão

O texto de Mateus 14, 1-12 transporta-nos para a **Galileia do século I d.C.**, um território sob o domínio romano, governado por **Herodes Antipas**, filho de Herodes o Grande. Antipas era um tetrarca, ou seja, governava uma das quatro partes do reino do seu pai, e a sua autoridade, embora significativa, estava sempre sujeita à aprovação de Roma. Este contexto é crucial para entender a complexidade da situação. Herodes, como muitos governantes da época, era vaidoso, supersticioso e preocupado com a sua imagem pública e o seu poder. A sua menção a Jesus como um possível João Batista ressuscitado revela o seu medo e a sua consciência pesada, uma vez que ele próprio havia mandado prender João.

**João Batista** emerge neste cenário como uma voz profética solitária, um arauto da verdade num ambiente de corrupção e desvirtuamento moral. A sua coragem em confrontar Herodes publicamente sobre o seu casamento ilícito com Herodíades – a mulher do seu irmão Filipe – não era apenas uma crítica moral, mas também uma afronta à autoridade e à imagem do tetrarca. A **lei judaica** proibia explicitamente tal união (Levítico 18,16; 20,21), e João, fiel à Torá, não se calava. Esta oposição valeu-lhe a prisão.

Herodes, embora desejasse a morte de João, hesitava devido ao **medo da multidão**, que via João como um profeta. Esta hesitação sublinha a sua preocupação com a **popularidade e a legitimidade** do seu governo. No entanto, a intriga palaciana, orquestrada por **Herodíades**, e a imprudência de Herodes num momento de euforia e ostentação – o banquete de aniversário e a dança da filha de Herodíades, possivelmente Salomé – selaram o destino de João. O **juramento público** feito por Herodes, uma questão de honra na cultura da época, tornou-o refém da sua própria palavra e da malícia de Herodíades.

A **decapitação de João Batista** é um evento chocante que revela a fragilidade da justiça num sistema corrompido e a vulnerabilidade da voz profética face ao poder tirano. A entrega da cabeça num prato simboliza a total desumanização e o desprezo pela vida. A notícia levada a Jesus pelos discípulos de João não é apenas um lamento, mas também um **ponto de viragem**. É o prenúncio do destino que aguarda o próprio Jesus, que também viria a ser uma voz inconveniente para as autoridades da sua época. A mensagem é clara: **a verdade muitas vezes custa caro, mas é essencial para a transformação.**

## Oração

Senhor, ajudai-nos a ser vozes proféticas no nosso tempo, corajosos na defesa da verdade e da justiça, mesmo quando o mundo nos convida ao silêncio. Que a exemplo de João Batista, não nos curvemos perante a opressão e a injustiça, mas sejamos arautos do Vosso Reino. Amém.

## Mensagem

A voz da verdade pode ser silenciada, mas a sua **mensagem permanece viva e continua a ecoar**, inspirando a coragem e a transformação.

## Frase Apelativa

**O silêncio perante a injustiça é um convite à tirania.**