Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Mateus
Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: «Ninguém pode servir a dois senhores, porque ou há de odiar um e amar o outro, ou se dedicará a um e desprezará o outro. Vós não podeis servir a Deus e ao dinheiro. Por isso vos digo: «Não vos preocupeis, quanto à vossa vida, com o que haveis de comer, nem, quanto ao vosso corpo, com o que haveis de vestir. Não é a vida mais do que o alimento e o corpo mais do que o vestuário? Olhai para as aves do céu: não semeiam nem ceifam nem recolhem em celeiros; o vosso Pai celeste as sustenta. Não valeis vós muito mais do que elas? Quem de entre vós, por mais que se preocupe, pode acrescentar um só côvado à sua estatura? E porque vos inquietais com o vestuário? Olhai como crescem os lírios do campo: não trabalham nem fiam; mas Eu vos digo: nem Salomão, em toda a sua glória, se vestiu como um deles. Se Deus assim veste a erva do campo, que hoje existe e amanhã é lançada ao forno, não fará muito mais por vós, homens de pouca fé? Não vos inquieteis, dizendo: ‘Que havemos de comer? Que havemos de beber? Que havemos de vestir?’ Os pagãos é que se preocupam com todas estas coisas. Bem sabe o vosso Pai celeste que precisais de tudo isso. Procurai primeiro o reino de Deus e a sua justiça, e tudo o mais vos será dado por acréscimo. Portanto, não vos inquieteis com o dia de amanhã, porque o dia de amanhã tratará das suas inquietações. A cada dia basta o seu cuidado».
Palavra da salvação.
REFLEXÃO
Vivemos num tempo marcado por ansiedades profundas: incertezas económicas, crises ambientais, instabilidade política e medo do futuro. A palavra de Jesus, hoje, vem como bálsamo e desafio: «Não vos inquieteis com o dia de amanhã» (Mt 6,34). Não se trata de apologia da irresponsabilidade ou do desleixo, mas de um convite claro à confiança.
«Procurai primeiro o Reino de Deus e a sua justiça» (Mt 6,33) é o versículo central desta proposta evangélica. Jesus convida-nos a recentrar a vida: não em bens, mas em Deus; não em garantias materiais, mas na confiança activa e no amor justo. O problema não está em trabalhar, planear ou cuidar do futuro – está em fazer disso um deus.
Hoje, muitos vivem escravizados pela necessidade de produzir, consumir, garantir estatutos e acumular segurança. Jesus mostra que esta inquietação é inútil: «Quem de entre vós, por mais que se preocupe, pode acrescentar um só côvado à sua estatura?» (Mt 6,27). A nossa fragilidade é, paradoxalmente, o espaço onde Deus mais quer actuar.
O pensamento cristão nunca separou fé e vida. São João Paulo II escreveu que “o trabalho é uma forma de participação na obra criadora de Deus” (Laborem Exercens). Trabalhar é confiar, mas confiar é libertar-se da idolatria das preocupações.
Esta Palavra é um convite urgente à paz interior: não pela negação dos problemas, mas pela confiança em que o Pai sabe tudo o que precisamos. Viver o presente com fé e simplicidade é resistir à tirania de um futuro que ainda não chegou.
Oração
Senhor, livra-me da ansiedade que me rouba a paz.
Ensina-me a procurar primeiro o teu Reino,
a viver cada dia com confiança e gratidão.
Que eu confie mais no teu amor do que nas minhas forças. Ámen.