31º Domingo do Tempo Comum (B)

 

Escute várias vezes as leituras. Depois Reze as leituras aplicando-as à sua própria vida: 

PRIMEIRA LEITURA        1Reis           17,10-16

Do seu punhado de farinha, a viúva fez um pãozinho e trouxe-o a Elias.

Ler a Palavra

Leitura do Primeiro Livro dos Reis:

Naqueles dias, 10Elias pôs-se a caminho e foi para Sarepta. Ao chegar à porta da cidade, viu uma viúva apanhando lenha. Ele chamou-a e disse: “Por favor, traze-me um pouco de água numa vasilha para eu beber”.
11Quando ela ia buscar água, Elias gritou-lhe: “Por favor, traze-me também um pedaço de pão em tua mão”.
12Ela respondeu: “Pela vida do Senhor, teu Deus, não tenho pão. Só tenho um punhado de farinha numa vasilha e um pouco de azeite na jarra. Eu estava apanhando dois pedaços de lenha, a fim de preparar esse resto para mim e meu filho, para comermos e depois esperar a morte”.
13Elias replicou-lhe: “Não te preocupes! Vai e faze como disseste. Mas, primeiro, prepara-me com isso um pãozinho e traze-o. Depois farás o mesmo para ti e teu filho. 14Porque assim fala o Senhor, Deus de Israel: ‘A vasilha de farinha não acabará e a jarra de azeite não diminuirá, até o dia em que o Senhor enviar a chuva sobre a face da terra’”.
15A mulher foi e fez como Elias lhe tinha dito. E comeram, ele e ela e sua casa, durante muito tempo. 16A farinha da vasilha não acabou nem diminuiu o óleo da jarra, conforme o que o Senhor tinha dito por intermédio de Elias.

Ler a Palavra 

       Uma situação de grande privação compromete a qualidade de vida da região inteira: uma seca prolongada, decretada pelo Senhor através do profeta Elias (cf. lRs 17,1). Este procura refúgio, por ordem divina, em terra estrangeira (cf. lRs 17,9), onde recebe a ajuda generosa de uma pobre «viúva» (w. 10-15). O Senhor abençoa o gesto de solidariedade e de fé desta mulher, garantindo milagrosamente os meios de sobrevivência tanto a ela, como ao filho e ao profeta (v. 16).

Compreender a Palavra

O episódio começa com um paradoxo: Elias é enviado por Deus, de Israel para uma terra estrangeira, onde dependerá das ofertas e dos recursos de uma mulher viúva, necessitada e perten¬cente a um povo pagão! A inversão da lógica humana é clara: o poder comunica-se através da impotência, da riqueza verdadeira, da indigência!

Se as condições daquela pobre mulher parecem desesperadas (v. 12b), o leitor não deve esquecer que JHWH «protege o estran¬geiro, ampara o órfão e a viúva» (Sl 145,9). Cria-se por isso uma tensão: precisamente a essa terra, que parece ser do domínio de

Baal, o Senhor faz chegar a Sua ajuda ao órfão, à viúva e ao Seu profeta. Entre as linhas nota-se uma polémica anti-idolátrica e a vontade de testemunhar a fé na soberania de Deus, que transcen¬de todas as barreiras e tarefas humanas.

Ê verdade, surpreende a fé desta mulher, que responde a Elias invocando o Senhor: «Tão certo estar vivo o Senhor, teu Deus…» (v. 12a) Uma coisa é clara, a fé não é apanágio de Israel mas, mis¬teriosamente, o Senhor concede-a a quem quer, mesmo a quem parece estar longe dela. Às palavras do profeta, que exorta a mu¬lher a «não temer» em nome da promessa do Senhor (w. 13-14), ela responde com uma obediência plena, sinal da sua fé e da sua generosidade; atitudes que o Senhor abençoa (w. 15-16).

A sobriedade da narração pouco concede ao gosto do mila¬groso, está de acordo com o ensinamento: JHWH, na Sua compai¬xão indefectível para com todos, privilegia, sobretudo, todos os pobres!

I LEITURA – 1 Reis 17, 10-16 (sintese) 

A viúva de Sarepta. Em tempo de fome, numa terra estrangeira, o profeta Elias é ajudado  por uma viúva que se encontra à mingua de recursos. Não nos é dito se ela acreditava no Deus verdadeiro; tem, certamente, a generosidade  dos pobres; e recebe, através do profeta, a retribuição de Deus. 

******************************************************************************************************************************************************************

 

 

SALMO RESPONSORIAL SL 145,7-10

O poder e a riqueza deste mundo conduzem à fome e à servi¬dão os seus súbditos e as suas vítimas; o Reino de Deus, ao con¬trário, concede o «pão aos famintos» e a «liberdade aos prisionei¬ros» (v. 7). Só a confiança no Senhor está, por isso, bem colocada; esperar nos homens é falacioso.

SALMO – 145 (146), 7.8-9a.9bc-10 (R. 1 ou Aleluia)

Refrão: Ó minha alma, louva o Senhor. Repete-se Ou: Aleluia. Repete-se

O Senhor faz justiça aos oprimidos,
dá pão aos que têm fome
e a liberdade aos cativos. Refrão

O Senhor ilumina os olhos do cego,
o Senhor levanta os abatidos,
o Senhor ama os justos. Refrão

O Senhor protege os peregrinos,
ampara o órfão e a viúva
e entrava o caminho aos pecadores. Refrão

O Senhor reina eternamente;
o teu Deus, ó Sião,
é rei por todas as gerações. Refrão

 

 

II LEITURA – Hebr 9, 24-28

«Cristo ofereceu-Se uma só vez para tomar sobre Si os pecados da multidão.»

SEGUNDA LEITURA         HB 9,24-28

Cristo ofereceu-Se uma só vez para tomar sobre Si os pecados de muitos.

Ler a Palavra

A unicidade do sacrifício de Cristo contrapõe-se à multipli¬cidade dos sacrifícios da parte do sacerdócio aaronita, repetidos anualmente no rito da expiação; o sacrifício de Cristo realiza-se na Páscoa, com a qual Ele entra no «santuário» celeste (w. 24-25), realizando a oferta da Sua própria vida (v. 26). Esta oferta dá- -se «uma só vez», pois a morte é um acontecimento irrepetível (w. 27-28). Finalmente, o autor introduz a confrontação entre a «primeira vinda» de Cristo na carne e a «segunda vinda», a que fará na glória (v. 28).

Leitura da Epístola aos Hebreus
Cristo não entrou num santuário feito por mãos humanas, figura do verdadeiro, mas no próprio Céu, para Se apresentar agora na presença de Deus em nosso favor. E não entrou para Se oferecer muitas vezes, como o sumo sacerdote que entra cada ano no Santuário, com sangue alheio; nesse caso, Cristo deveria ter padecido muitas vezes, desde o princípio do mundo. Mas Ele manifestou-Se uma só vez, na plenitude dos tempos, para destruir o pecado pelo sacrifício de Si mesmo. E, como está determinado que os homens morram uma só vez e a seguir haja o julgamento, assim também Cristo, depois de Se ter oferecido uma só vez para tomar sobre Si os pecados da multidão, aparecerá segunda vez, sem a aparência do pecado, para dar a salvação àqueles que O esperam.

Compreender a Palavra

Partindo do princípio de que «sem derramamento de sangue não existe perdão» (HB 9,22), a Carta aos Hebreus medita na uni¬cidade do sacrifício de Cristo, do qual brota a redenção para a Humanidade. O acontecimento pascal é o cumprimento cristoló- gico do rito da expiação, que o Sumo Sacerdote celebrava uma vez no ano ao entrar no Santuário (v. 25; cf. Lv 16). Mas se o rito pode e deve ser repetido, o sacrifício de Cristo consiste na singular e irrepetível oferta de «Si mesmo» até à morte (v. 26).

A Carta serve-se, em primeiro lugar, de uma metáfora de mo-vimento: com a Páscoa, Cristo entrou «não num santuário feito por mãos humanas», mas na habitação celeste de Deus, isto é, na própria vida íntima divina (v. 24). Além disso, se o «Sumo Sacerdote», entrando no santuário, devia levar o sangue das ví¬timas, Cristo, entrando na morada transcendente de Deus, le¬vou consigo o Seu próprio sangue, derramado pela Humanidade (w. 25-26). Por isso o Seu sacrifício decretou já inválidos todos os sacrifícios antigos e suprimiu a separação ritual do culto do Antigo Testamento.

A metáfora do movimento leva o autor da Carta aos Hebreus a introduzir o tema da diferença entre as «duas vindas» de Cristo: se a primeira se deu na carne pela morte, em redenção dos pe¬cadores; a «segunda», já não terá a finalidade de Se oferecer a Si mesmo em expiação, mas sim a de acolher a Humanidade na casa do Pai (w. 27-28). 

 

Leitura da Epístola aos Hebreus
Cristo não entrou num santuário feito por mãos humanas, figura do verdadeiro, mas no próprio Céu, para Se apresentar agora na presença de Deus em nosso favor. E não entrou para Se oferecer muitas vezes, como o sumo sacerdote que entra cada ano no Santuário, com sangue alheio; nesse caso, Cristo deveria ter padecido muitas vezes, desde o princípio do mundo. Mas Ele manifestou-Se uma só vez, na plenitude dos tempos, para destruir o pecado pelo sacrifício de Si mesmo. E, como está determinado que os homens morram uma só vez e a seguir haja o julgamento, assim também Cristo, depois de Se ter oferecido uma só vez para tomar sobre Si os pecados da multidão, aparecerá segunda vez, sem a aparência do pecado, para dar a salvação àqueles que O esperam.
Palavra do Senhor.

ALELUIA – Mt 5, 3

Refrão: Aleluia. Repete-se

Bem-aventurados os pobres em espírito,
porque deles é o reino dos Céus. Refrão

EVANGELHO – Forma longa – Mc 12, 38-44

Jesus critica os ecribas e elogia uma viúva pobre.

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Marcos
Naquele tempo, Jesus ensinava a multidão, dizendo: «Acautelai-vos dos escribas, que gostam de exibir longas vestes, de receber cumprimentos nas praças, de ocupar os primeiros assentos nas sinagogas e os primeiros lugares nos banquetes. Devoram as casas das viúvas, com pretexto de fazerem longas rezas. Estes receberão uma sentença mais severa». Jesus sentou-Se em frente da arca do tesouro a observar como a multidão deitava o dinheiro na caixa. Muitos ricos deitavam quantias avultadas. Veio uma pobre viúva e deitou duas pequenas moedas, isto é, um quadrante. Jesus chamou os discípulos e disse-lhes: «Em verdade vos digo: Esta pobre viúva deitou na caixa mais do que todos os outros. Eles deitaram do que lhes sobrava, mas ela, na sua pobreza, ofereceu tudo o que tinha, tudo o que possuía para viver».
Palavra da salvação.

EVANGELHO – Forma breve – Mc 12, 41-44

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Marcos
Naquele tempo, Jesus sentou-Se em frente da arca do tesouro a observar como a multidão deitava o dinheiro na caixa. Muitos ricos deitavam quantias avultadas. Veio uma pobre viúva e deitou duas pequenas moedas, isto é, um quadrante. Jesus chamou os discípulos e disse-lhes: «Em verdade vos digo: Esta pobre viúva deitou na caixa mais do que todos os outros. Eles deitaram do que lhes sobrava, mas ela, na sua pobreza, ofereceu tudo o que tinha, tudo o que possuía para viver».
Palavra da salvação

A GENEROSIDADE DOS SIMPLES

Por vezes na leitura da Palavra de Deus é-se surpreendido com episódios reveladores de uma grande generosidade. É esta capacidade de dar que marca dois dos textos hoje proclamados na liturgia. Elias é ajudado pela viúva de Sarepta, Jesus dá-se conta do óbulo da viúva. De facto, são duas pessoas pobres, simples, humildes, que no meio das suas grandes dificuldades ainda conseguem repartir os bens. A viúva de Sarepta não tinha mais nada para sobreviver do que um punhado de farinha e um fio de azeite. Apesar disso sentiu-se capaz de ajudar Elias que precisava de um pãozinho e de um copo de água (I leitura). Do mesmo modo, quando Jesus se coloca em frente do tesouro do templo a ver multidões que passavam e depositavam quantias no lugar do ofertório é surpreendido por uma viúva pobre que não tem mais do que duas moedas. Na sua generosidade são estas que ela oferece (evangelho). A Carta aos Hebreus considera também Jesus como um pobre cheio de generosidade que oferece o que tem, a vida, de uma vez por todas para o perdão dos pecados e para que a humanidade seja salva (II leitura).

1. A viúva de Sarepta
No texto do Livro dos Reis há duas personalidades diferentes mas que se aproximam num problema que é dos dois. Elias tem sede e fome, a viúva de Sarepta prepara o que lhe resta para fazer pão com que alimentará o seu filho. São dois pobres: Elias marcado pelo cansaço e pela solidão; a viúva de Sarepta dominada por uma pobreza extrema. Ao desafio do profeta, para uma generosidade aparentemente exagerada, aquela mulher responde com uma partilha ainda maior, dando do último pão que lhe resta. Porque Elias fala em nome de Deus, a viúva de Sarepta é recompensada: “Desde aquele dia, nem a panela da farinha se esgotou, nem se esvaziou a almotolia do azeite” (1 Reis 17, 16).

2. O óbulo da viúva
Muita gente passava no átrio do templo. Era natural participar nas despesas do culto, na sustentação dos sacerdotes e no cuidado a ter com os mais pobres. Todos os crentes passavam junto do tesouro e deitavam esmolas segundo a sua capacidade económica. Uns deitavam muito, pela sua riqueza, outros deitavam pouco, por causa dos seus limites. Até aqui tudo foi normal. Mas aconteceu que uma mulher viúva, no limiar da sua pobreza extrema, não se resignou a ficar sem dar e “deitou duas pequenas moedas” (Mc 12, 42). Talvez fosse o último dinheiro que lhe restava. Assim o compreendeu Jesus que disse aos discípulos: “eles (os ricos) deitaram do que lhes sobrava, mas ela, na sua pobreza, ofereceu tudo o que tinha” (Mc 12, 44). Lição maravilhosa da generosidade dos simples. Cristo aproveitou o episódio para convidar os discípulos e, neles, todos os cristãos a serem simples e generosos em todas as situações.

3. O sacrifício único
Na Carta aos Hebreus fala-se hoje de um sumo sacerdócio diferente, não na opulência mas na pobreza, não na vitória a qualquer preço mas na aceitação da morte como grande sacrifício, não na multiplicidade dos holocaustos mas na oferenda única da vida de uma vez por todas para a remissão dos pecados. Cristo fez-se simples no dom da própria vida para a todos chamar à generosidade da entrega. Em Cristo aprende-se a dar a vida.

 

 

XXXII DOMINGO DO TEMPO COMUM Ano B

 

SALMO RESPONSORIAL SL 145,7-10

O poder e a riqueza deste mundo conduzem à fome e à servi¬dão os seus súbditos e as suas vítimas; o Reino de Deus, ao con¬trário, concede o «pão aos famintos» e a «liberdade aos prisionei¬ros» (v. 7). Só a confiança no Senhor está, por isso, bem colocada; esperar nos homens é falacioso.

 

EVANGELHO

Mc 12,38-44

Esta pobre viúva deu mais do que todos os outros.

Ler a Palavra

Jesus acusa os escribas de vaidade e de hipocrisia: eles procu¬ram o aplauso das pessoas e evidenciam-se nas práticas religiosas, enquanto assumem um comportamento injusto para com os dé¬beis e os indefesos (w. 38-40). Segue-se a descrição das pessoas que trazem os seus óbulos ao Templo. Entre estas sobressai uma «viúva» com a sua pobre oferta (w. 41-42). Jesus revela aos discí¬pulos a verdade profunda do gesto da mulher, enquanto modelo do verdadeiro amor a Deus (w. 43-44).

Compreender a Palavra

A polémica de Jesus contra os doutores da Lei denuncia uma religiosidade que se arrisca a colocar Deus ao serviço dos desejos humanos, do orgulho, da avidez e da hipocrisia. Ela manifesta- -se como procura da aprovação alheia e como teatralidade no momento mais importante da relação com Deus, isto é, a oração (w. 38-40). A denúncia de Jesus parece evocar os juízos severos dos profetas contra uma religiosidade distorcida e privada de justiça.

No entanto, a uma conduta destinada à salvaguarda das apa¬rências, como a dos escribas, contrapõe-se o comportamento de uma «pobre viúva» (w. 41-42). A cena desenrola-se no Templo, na sala do tesouro com as treze «trombetas» ou cofres, nos quais ressoa forte o tilintar das moedas inseridas; a quantidade e o valor da oferta devem, apesar de tudo, ser comunicados ao sacerdote encarregado das esmolas. Portanto, a oferta daquela mulher representa um valor pecuniário mínimo, e podia ser de embaraço para ela. Jesus valoriza o gesto dela, apontando-o como mode¬lo de verdadeira religiosidade, de fé simples, alheia a qualquer cálculo e ostentação, capaz de oferecer generosamente a própria vida a Deus. O texto grego não diz propriamente que ela ofereceu «tudo quanto tinha para viver», mas sim que ofereceu a «sua pró¬pria vida» (v. 44). 

DA PALAVRA PARA A VIDA

A invectiva de Jesus contra os escribas (Evangelho, Mc 12, 38-40) tem um sentido de actualidade que impede reduzir as palavras do Mestre a uma mera dimensão anedótica. De facto, a autenticidade da vida de fé está sempre ameaçada pelo risco de instrumentalizar Deus, de submeter a religião ao desejo de prestígio e de poder. A vida de fé é corrompida na sua verdade profunda quando os gestos e as acções que a substanciam se tornam propícios ao desejo de aparecer e são, por assim di¬zer, teatralizados. Também noutras passagens do Evangelho, como por exemplo em MT 6,5-6, Jesus avisa sobre o perigo de viver a relação com Deus (especialmente a oração) de forma hipócrita, preocupando-se substancialmente mais com o juí¬zo alheio do que com o olhar do Senhor.

Este veneno da vida espiritual associa-se inevitavelmente a um definhar do sentido da justiça, pelo que as pessoas se tor¬nam instrumento de exploração, de apoio e de pedestal para o próprio «eu». Não se julgue caricatural o que Jesus diz con¬tra os escribas, porque isso já fora denunciado pelos profetas, quando desmascaravam uma pretensa religiosidade privada de verdadeira piedade para com Deus e de justiça no tocante ao próximo. Por outro lado, a insistência a que se vigie sobre a qualidade da própria fé e sobre o dever de a traduzir na prá¬tica da caridade e da justiça, pode encontrar-se noutros textos do Novo Testamento, especialmente na Carta de Tiago, mui¬to severa para com a pseudo-religiosidade de quem descura ou, inclusive, explora os pobres. Ainda hoje é forte a tentação de reduzir a vida espiritual à procura do bem-estar interior, de estados de espírito e de emoções, ignorando ao mesmo tempo as necessidades dos mais pobres e o dever de construir uma sociedade mais humana, mas digna, mais justa. O antí¬doto para esta tentação é a escuta atenta das fortes instâncias da Palavra de Deus!

Considerando o episódio da viúva (cf. Mc 12,41-44), en¬contramos várias provocações para o nosso «hoje». Antes de mais, o convite a não nos determos diante das aparências e a não julgar as pessoas superficialmente. É o que acontece no

Templo, quando as duas pequenas moedas da mulher tilin¬tam tão baixinho naqueles cofres em que ressoam as nume¬rosas e pesadas moedas dos ricos. Também nas comunidades cristãs está sempre à espreita o risco de nos determos perante as aparências, de esquecermos quem é menos importante, menos inteligente, menos prestigiado, mas porventura mais cheio de amor de Deus e capaz de nos fazer compreender algo sobre a Sua vontade para com as nossas pessoas e as nossas comunidades.

Quer o episódio do Evangelho da viúva no Templo, quer tam-bém o da viúva de Sarepta (primeira leitura), esclarecem-nos positivamente acerca da qualidade que deve ter uma verdadei¬ra fé em Deus. Esta acontece somente quando entra em jogo a totalidade da pessoa, das suas opções, dos seus recursos, das suas aspirações. Como a viúva elogiada por Jesus que, movida pela confiança em Deus, oferece o sustento da sua vida (antes, a «sua própria vida», Mc 12,44), assim o fiel deve nutrir uma confiança autêntica no Senhor, que se manifesta na superação de cálculos angustiados e interesseiros.

Certamente, o episódio do Evangelho é um caso extremo, em-blemático, mas manifesta aquela que deve ser a «pobreza de espírito», ou seja, a não confiar nas próprias riquezas e possi-bilidades, colocando antes de mais, e sobretudo, a confiança no amor de Deus e no Seu auxílio. Então a viúva, ao aparentar que não ensina nada, torna-se intermediária de um ensina¬mento de enorme valor: enquanto o Evangelho for anuncia¬do, o seu gesto será modelo para todos aqueles que querem de verdade amar e servir o Senhor, esse Senhor que por Sua vez Se entregou totalmente pela Humanidade, tal como nos recorda a Carta aos Hebreus (segunda leitura).

Oraç

Ó Deus, Pai dos órfãos e das viúvas, refúgio dos estrangeiros, justiça dos oprimidos,amparai a esperança dos pobres que confiam no Vosso amor,para que jamais falte a liberdade e o pão que concedeis,e todos aprendamos a dar, seguindo o exemplo d’Aqueleque Se deu a Si mesmo, Jesus Cristo, Nosso Senhor.

 

  •