QUINTA-FEIRA
PRIMEIRA LEITURA (anos pares) ICOR 1J-9
Por Ele fostes enriquecidos em tudo.
Ler a Palavra
O começo da Primeira Carta aos Coríntios segue o esquema típico da forma epistolar com a apresentação dos remetentes e dos destinatários, a saudação e depois a acção de graças a Deus, pelos dons que concedeu à comunidade dos fiéis. A solenidade da introdução familiariza o ouvinte com a riqueza dos temas e dos assuntos que serão tratados em seguida. No versículo 5, Paulo declara a riqueza espiritual dos Coríntios, aos quais não falta ne nhum dos dons da fé, mas ao mesmo tempo exorta-os a perma necerem firmes em Deus, que ele define como «fiel» (v. 9).
Compreender a Palavra
Na saudação inicial à comunidade de Corinto, o Apóstolo chama a atenção para o contexto de uma Igreja maior, composta por todos aqueles que invocam o Nome do Senhor, porque são chamados a ser santos (v. 2). O relevo sobre a universalidade da fé constitui uma das argumentações mais fortes de Paulo perante as divisões internas na comunidade, devido aos diversos personalis- mos que provocavam rivalidades e divisões.
Depois, quase com ironia, no versículo 5, o Apóstolo louva os Coríntios, porque não lhes falta nenhum dom, sendo já peri¬tos na «palavra» e no «conhecimento». Mas há um crescimento
a fazer na linha da «irrepreensibilidade» (v. 8) da «comunhão» (v. 9), dons que vêm directamente de Deus e que Ele está sempre disposto a conceder a quem permanece fiel na procura sincera da santidade.
O adjectivo «fiel», atribuído a Deus, é a nota dominante da teologia desta Carta, já que no centro da fidelidade estão a ca¬ridade e a misericórdia utilizadas pelo Senhor para connosco (cf. ICOR 13).
SALMO RESPONSORLAL Sl 144,2-7
Narrar as obras maravilhosas de Deus é o dever de cada ge¬ração, chamada a recordar o passado, mas também a manter os olhos abertos sobre a obra que Deus vai realizando com bondade e justiça, para que Ele continue a ser proclamado grande e digno de louvor para sempre.
EVANGELHO MT 24,42-51
Estai preparados.
Ler a Palavra
A leitura semicontínua do Evangelho de Mateus omite a sec¬ção dedicada a Jerusalém e ao fim dos tempos (cf. MT 23,37-41) e transporta-nos para a última parte do capitulo 24.
O texto de hoje é dedicado ao tema da vigilância na expec¬tativa do regresso do Senhor, comparada à vinda de um ladrão ou do senhor da casa. As duas imagens descrevem a surpresa e a liberdade quer do ladrão, quer do senhor da casa de chegarem quando julgarem mais oportuno. Jesus sublinha também a atitu¬de daquele que espera, deixando-se encontrar preparado e não se deixando perder no ócio e na violência.
Compreender a Palavra
O tema da vigilância caracteriza os últimos discursos públicos de Jesus e antecipa a reflexão sobre o Juízo universal, no qual o
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Senhor pedirá contas a cada um pelas obras realizadas, não só pelas palavras pronunciadas.
As duas imagens que pretendem fazer-nos entrar na atitude da expectativa dizem ambas respeito à casa: arrombada por um lado, na primeira; e mal administrada pelo servo, que recebeu a confiança do senhor, na segunda. A vigilância cabe portanto a quem, embora não sabendo bem o que vai acontecer fora de casa, é chamado a ser guarda atento do ambiente onde vive.
Se a casa não é vigiada, alguém se preocupara em roubá-la ou em arrombá-la; se não for bem administrada, torna-se um antro de vícios e já não um lugar onde todos podem viver no respeito mútuo. Quando o fiel perde este mesmo sentido de cuidado pela sua própria vida, lugar que deve ser habitado pela paz, terá muito que chorar pelas suas imperdoáveis distracções.
DA PALAVRA PARA A VIDA
Em todas as celebrações eucarísticas, como conclusão da narração da instituição, proclamamos o «mistério da fé» es-perando a vinda do Senhor Jesus, crucificado e ressuscitado. Embora confessando-O realmente presente na Eucaristia, esperamo-fO com energia, para que Ele venha reunir-nos com todos os Seus santos.
Estarmos vigilantes e acordados não é uma atitude opcional para o cristão, o qual, ao invés, é chamado a rezar, a traba¬lhar, a fazer o bem, mantendo viva a tensão para o Senhor que vem. Se todavia esperar alguém na nossa experiência, em geral provoca sempre agitação e frustração, a vigilância cristã é estável e frutuosa. O cristão sabe que a sua identidade de filho amado não depende só de si próprio, mas está em rela¬ção directa com a actuação de Deus que age sempre em nosso favor.
Procurar e viver a fidelidade aos compromissos recebidos no Baptismo ou na escolha de vida empreendida ao serviço do Evangelho, é o modo mais autêntico de confessar com a vida tudo o que dizemos com palavras, em cada Missa. A fi-
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delidade, depois, não é uma simples execução de tarefas para demonstrar a nós próprios que somos capazes de fazer uma coisa, mas é o cuidado contínuo do sentimento de assombro para com o Senhor presente e actuante na nossa vida. Fide¬lidade não é imutabilidade, nem preocupação obsessiva de colocar tudo no seu lugar, mas pesquisa contínua e dinâmica de permanecer diante de Deus (cf. lTs 3,13, primeira leitura, anos pares), para que Ele, que é fiel, possa tornar-nos estáveis e sólidos no Seu amor manifestado em Jesus (cf. ICor 1,6, primeira leitura, anos ímpares).
Então, vigiar, como nos sugere o Evangelho (cf. Mt 24,42), poderia ser traduzido por esforço interior de nos mantermos sempre na presença de Deus, a fim de que os nossos pensa¬mentos, afectos, intenções e obras possam ser purificados por Aquele que é o Santo por excelência, e que é capaz de tornar os Seus filhos fiéis ao bem recebido, em condições de traba-lhar e de amar na espera d’Aquele que é o único que merece ser esperado.
Oração
O Vosso auxílio, ó Pai,
nos torne perseverantes no bem,
esperando a Cristo vosso Filho:
quando Ele vier e bater à porta,
que nos encontre vigilantes na oração,
praticando a caridade fraterna e exultantes na fé.